"Vejo com preocupação" o futuro do euro, diz Catroga

Crítico da forma como foi criado o euro, sem "mecanismos de federalismo fiscal", Eduardo Catroga lembra como o crédito fácil está na base da crise que se vive.

Como vê o futuro do euro?

Vejo com muita preocupação. A Europa é um projecto em que não se sabe bem qual é o modelo final, costuma dizer-se que isto vai sendo construído à medida das crises. Todos sabiam que a construção técnica da moeda única era imperfeita. Para funcionar bem, uma moeda única pressupõe a existência de mecanismos a nível da União, a nível federal, que façam face àquilo a que os economistas chamam os choques assimétricos. Por exemplos, nos EUA, se o Texas abre falência, os mercados sabem que a União responde. Na União Europeia faltavam mecanismos de federalismo fiscal. Mas se se estabelecessem esses mecanismos, tipo um FMI europeu, os alemães não queriam.

A crise revelou as debilidades...

Esta crise vem dos pressupostos em que trabalhou a política europeia, de que agora estamos numa união monetária e não havia risco para os países. Em Portugal isto foi defendido por Vítor Constâncio contra Cavaco Silva. Alguns países convenceram-se que agora não era importante gerir a balança de transacções correntes nem a dívida externa. Foi um erro. Convenceram-se de que os países, quando muito, ficam sem os seus bens, os credores tomam conta, mas não há problema de financiamento. Foi uma atitude que os mercados interiorizaram.

E alimentaram.

Sim. E de um momento para o outro começámos a ter taxas de juro iguais à Alemanha. O endividamento externo era fácil e barato e desprezámos a poupança interna. A Europa não se constrói pelo modelo idealista. Vai explodir isto? Ninguém sabe. Sinceramente, não sei.

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