Roubini: Portugal tentará “evitar a reestruturação da dívida”

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Roubini (2º a contar da direita) Reuters/Fred Prouser/Arquivo

O FMI aprendeu a lição com o programa de ajustamento financeiro que aplicou há um ano na Grécia e percebeu que só com uma “redução de forma mais gradual e mais objectiva” das metas orçamentais em Portugal, para 2013, o país conseguirá crescer, defende o economista norte-americano Nouriel Roubini. A única saída, acredita, para, neste momento, o país evitar a reestruturação da sua dívida.

Nouriel Roubini, professor na Universidade de Nova Iorque, e um dos primeiros economistas a prever uma crise financeira de grandes dimensões globais (conhecido como "Dr. Doom"), elogia a abertura do Fundo Monetário Internacional (FMI), uma das instituições da troika, nas negociações com o Governo demissionário português para aplicar um programa de ajustamento financeiro menos duro do lado do crescimento económico do que foi decido para a Grécia. “Será doloroso, mas é necessário”.

Para Roubini, que falava esta tarde numa sessão das Conferências do Estoril, sobre a crise financeira na zona euro, “seria melhor ainda prolongá-lo para 2014”, para não comprometer o crescimento económico português. “Mas é uma decisão na direcção certa”, frisou.

O economista notou que, tendo Portugal já negociado o pacote de ajustamento, o Governo que sair das eleições de 5 de Junho “não tem outra escolha que não seja tomar medidas duras.” Ressalvou, no entanto, que as condições do programa, “nomeadamente a maturidade da dívida, talvez possam ser renegociadas” mais tarde.

Questionado sobre o momento em que o Governo português decidiu pedir ajuda externa, Roubini apenas comentou: “Não sei se foi demasiado tarde ou demasiado cedo, águas passadas são águas passadas; a crise está aqui, agora devemos pensar no futuro.”

Plano B: a reestruturação?

Se o plano A não funcionar, disse Roubini referindo-se ao plano de ajuda da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e do FMI, e Portugal tiver de passar ao plano B – a reestruturação – “daqui a dois a três anos, se chegarmos a esse ponto, deve-se pensar num processo passo a passo”. Mas disse ter esperança de que o “plano do FMI seja um programa com êxito”, até porque a reestruturação implica “riscos bastantes acentuados”.

“A reestruturação é algo que poderá a acontecer [nos países periféricos [intervencionados – Portugal, Grécia e Irlanda]; caso contrário, poderá haver uma ruptura da união monetária” e haver países a sair da zona euro daqui a cinco anos, antecipou.

Para aumentar a competitividade, disse, Portugal terá de realizar reformas estruturais “que aumentem a produtividade para tornar a dívida mais sustentável”. Em todos os programas aplicados pelo FMI, lembrou, a instituição centra-se na reforma estrutural, mas ela “tem de ser a longo prazo”, porque, a curto prazo, “tem um impacto negativo: implica [nomeadamente] despedimentos no sector privado e público, fecho de empresas que não são lucrativas”.

Para crescer dentro de três a cinco anos (“nenhum corpo social aceita tanto tempo em recessão, sem ver luz ao fundo do túnel”), Portugal tem sectores tradicionais que pode combinar com novos sectores emergentes, registou. Portugal “beneficia de um bom sector produtivo, como o têxtil, e a revolução tecnológica pode tornar estes sectores tradicionais mais competitivos”, exemplificou.

Notícia actualizada às 19h51
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