A China está mais velha e mais urbana

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O regime ainda não está disposto a alterar a política de filho único David Gray/Reuters

A população chinesa está mais velha e cada vez mais urbanizada. As principais conclusões do censos de 2010, publicado hoje, quinta-feira, confirmam que o país está em acelerada mudança social. E que tem muitos desafios à sua frente.

A política governamental de filho único, destinada a controlar a natalidade, produziu resultados. A população chinesa cresceu na última década 5,84 por cento, atingindo agora os 1,34 mil milhões. O último censos, de 2000, apontava para um crescimento de 11,7 por cento em relação aos dez anos anteriores. A tendência é para uma queda ainda maior no futuro.

As restrições ao número de filhos que cada casal pode ter foram adoptadas na década de 1980 – um nas cidades, dois nas zonas rurais (e, recentemente, dois para os casais de zonas urbanas que sejam eles próprios filhos únicos). O resultado é que, em média, o agregado familiar chinês conta agora com 3,1 pessoas, comparado com 3,44 em 2000.

O que a quebra da natalidade significa também é que o país tem agora mais idosos: 13,3 por cento da população tem mais de 60 anos (mais três por cento que há 10 anos); 16,6 por cento tem menos de 14 (menos seis por cento).

O envelhecimento da população poderá ter um impacto na economia, já que o número de potenciais trabalhadores, sobretudo nas áreas rurais, poderá diminuir, sublinha a BBC. A agência AP referia mesmo que o crescimento económico pode estar em causa se houver menos gente a querer trabalhar nas fábricas e a construir estradas.

Não seria por isso de admirar que a política de filho único venha a ser aligeirada, como especulam os media e alguns especialistas, apesar das declarações em contrário do Presidente Hu Jintao.

Para Wang Feng, especialista em demografia do Centro de Política Social Brookings-Tsinghua, em Pequim, o estudo confirma que a população chinesa fez uma viragem, com enormes fluxos migratórios e uma taxa de natalidade inferior a 1,5 filhos por casal. “Isto é assustadoramente baixo para um país como a China”, comentou à AP.

A estação britânica adianta que as conclusões não são particularmente surpreendentes e apontam para tendências que já tinham sido identificadas há muito. Mas também revelam os desafios que o país tem pela frente: mais pensionistas a serem sustentados por menos trabalhadores.

Para além disso, quase metade dos chineses vivem agora em cidades e há praticamente o dobro da população migrante de há dez anos: agricultores que vão procurar trabalho (sobretudo em fábricas das zonas costeiras industrializadas) e que se deparam com dificuldades de acesso à saúde e educação dos seus filhos. Se há dez anos, quando o último census foi feito, 36 por cento dos chineses viviam em zonas urbanas, agora são 49,7 por cento.

Este census refere que o Leste do país continua a assistir a um aumento da população – 37,9 por cento, quando em 2000 tinha subido 35,57 por cento. As regiões do Centro, Nordeste e, sobretudo, Oeste assistiram a uma queda.

A China tem um sistema de controlo das movimentações populacionais que obriga a que cada pessoa viva e trabalhe onde está registado. Pela primeira vez, foram contabilizados os migrantes com base onde vivem e não onde estão registados. E concluiu-se que mais de 220 milhões de chineses trabalharam longe de casa durante mais de seis meses em 2010, quase o dobro dos números anteriores.

Também foi revelado que nascem seis rapazes por cada cinco raparigas – ou seja, a sociedade chinesa continua a privilegiar as crianças de sexo masculino.

“Os dados deste censos mostram que o nosso país enfrenta algumas tensões e desafios relativamente à população, à economia e ao desenvolvimento social”, admitiu Ma Jiantang, chefe do Instituto Nacional de Estatísticas, citado pela BBC. A China terá de “responder activamente aos novos desafios do desenvolvimento demográfico”.

Notícia corrigida às 12h50
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