Grant Wahl quer ser o "outsider" nas eleições da FIFA

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"A maioria dos adeptos está descontente com Blatter", diz o jornalista norte-americano Sebastian Derungs/Reuters (arquivo)

A ideia surgiu no início do ano. Depois de ver que Joseph Blatter ia recandidatar-se à presidência da FIFA e que não tinha ninguém a desafiá-lo, Grant Wahl tomou uma decisão. Este jornalista norte-americano quer apresentar uma candidatura para rivalizar com a do líder do organismo que tutela o futebol a nível mundial, no cargo há 13 anos.

"A FIFA reclama ser uma grande democracia, mas as grandes democracias não têm sempre eleições com apenas um candidato", aponta Grant Wahl em conversa telefónica com o PÚBLICO.

"Tenho 37 anos e a FIFA só teve dois presidentes nesse período. Acho que devia haver um limite de mandatos na presidência e no comité executivo. Não devia ser permitido cumprir mais que dois mandatos de quatro anos, porque a FIFA tem de ser capaz de mudar com os tempos", sublinha. Algo que, na opinião de Grant Wahl, iria trazer "novas ideias e novas pessoas" à FIFA. "Isso faria com que fosse uma melhor organização", conclui o jornalista da revista norte-americana Sports Illustrated.

As eleições estão marcadas para 1 de Junho, mas antes Grant Wahl tem até 1 de Abril para conseguir que uma das 208 federações que pertencem à FIFA o nomeie oficialmente como candidato. "Tenho feito contactos com algumas federações a pedir que equacionem a hipótese de me nomear. O que lhes tenho dito é que nem precisam de votar em mim a 1 de Junho, podem apenas nomear-me", explica, escusando-se a dizer que federações já contactou.

"WikiLeaks na FIFA"

"A maioria dos adeptos de futebol está descontente com a FIFA e com Blatter. Não acreditam que a FIFA seja uma organização limpa", prossegue Grant Wahl. Por isso, uma das suas prioridades caso seja eleito será divulgar os documentos internos da organização. "Como presidente, a primeira coisa que faria era um WikiLeaks na FIFA. Divulgar todos os documentos internos, para descobrirmos se se trata ou não de uma organização limpa", vinca.

E o que iria apurar uma iniciativa deste género? "Não faço ideia do que encontraríamos", confessa Grant Wahl. "Esse é o ponto", enfatiza o jornalista: "São necessários factos para descobrir se a reputação da FIFA corresponde ou não à verdade".

Grant Wahl sabe que tem poucas possibilidades de vir sequer a conseguir apresentar a candidatura. "Sinto que estão a ser discutidas ideias importantes porque anunciei a minha candidatura. Para mim, isso é óptimo. Era o que pretendia: que houvesse discussão de ideias", admite.

Sobre o perfil do candidato que gostaria de ver a concorrer à presidência da FIFA, Wahl acredita que a própria organização precisa de alguém que esteja fora do meio: "Gostava de ver outro outsider apresentar uma candidatura, quer fosse um ex-jogador famoso ou alguém com boa reputação na gestão de organizações. Especialmente se conseguisse ter o apoio das federações de todo o mundo. Uma candidatura assim teria o meu apoio", confessa ao PÚBLICO.

"A organização precisa de grandes mudanças, que são difíceis de fazer se se for um político de carreira que passou anos na FIFA, como são Joseph Blatter ou Mohamed Bin Hammam [apontado como sucessor de Blatter]", acrescenta o jornalista.

Mais que ser ele o sucessor de Blatter, Wahl quer ver o actual presidente da FIFA, no cargo desde 1998, a ceder o lugar. O dirigente suíço cumpre quinta-feira 75 anos, e se for eleito para novo mandato chegará como presidente da FIFA aos 79 anos. Com possibilidades de voltar a ser reeleito.



As propostas

Grant Wahl acredita que a credibilidade e ética da FIFA foram postas em causa no reinado de Blatter. "A atribuição dos Mundiais de 2018 e 2022 à Rússia e ao Qatar foi o derradeiro exemplo", frisa. Por isso, o autor de The Beckham Experiment tem propostas para recuperar o prestígio da organização, dentro e fora de campo. "Para mim é importante ter repetição instantânea de lances duvidosos na linha de baliza. Vimos no Mundial que a Inglaterra marcou um golo legítimo contra a Alemanha [nos oitavos-de-final]. Milhões de pessoas viram que foi um golo legítimo [lance da foto], e o árbitro no campo não. Isto está errado", sublinha o jornalista norte-americano. "Creio também que as mulheres deviam ter mais influência na FIFA. Eu nomearia uma mulher como secretária-geral", acrescenta Grant Wahl, que quer ter os melhores árbitros nos Mundiais, sem limite por países. Exigir-lhes que expliquem lances controversos após os jogos e acabar com os cartões amarelos "estúpidos" para os jogadores que tiram a camisola após um golo são outras propostas de Wahl.
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