Lois Lane, a jornalista de forte personalidade que apaixona o Super-Homem, tem um nome do meio: Joanne. Deve-o à mulher que serviu de modelo a Joe Shuster para desenhar a personagem, Joanne Carter, que faleceu este sábado, em Santa Mónica, na Califórnia. Tinha 93 anos.

Joanne Carter publicou um anúncio nos classificados do jornal The Plain Dealer, a oferecer-se como modelo. Corria o ano de 1935. Entre todas as respostas que recebeu – sobretudo propostas para encontros –, estava a de Jerry Siegel e Joe Shuster, que se encontravam na altura a construir o universo desenhado do Super-Homem. Aceitou.

A sessão decorreu descontraída, com Joanne a posar mesmo deitada sobre os braços de uma cadeira, para Shuster a poder desenhar nos braços do “homem de aço”. À medida que os traços originais de Lois Lane chegavam ao papel, os três iam desenvolvendo uma amizade que culminou, anos mais tarde, com o casamento da jovem com Jerry Siegel.

É dessa união, segundas núpcias para ambos, que a modelo acabará por ir buscar o nome pelo qual é hoje conhecida, Joanne Siegel. Mas isso apenas aconteceria em 1948, já depois da Segunda Guerra Mundial, durante a qual Joanne trabalhou num estaleiro californiano, a construir navios. Reencontraram-se em Nova Iorque, num baile de angariação de fundos para cartunistas.

O rosto de Joanne Siegel é o que se encontra na Lois Lane de Action Comics #1, editado em Junho de 1938 – embora Joe Shuster tenha tomado a liberdade de desenhar o corpo da jornalista do The Daily Planet substancialmente mais voluptuoso que o seu.

A personalidade de Lois Lane foi inspirada noutra personagem ficcional, Torchy Blane (que, por sua vez, era uma construção sobre Nellie Bly, jornalista que, no final do séc. XIX, entre outros feitos, reportou uma circumnavegação e fingiu ser louca para investigar o funcionamento das instituições de tratamento psiquiátrico). No entanto, Joanne partilhava uma costela justiceira com o amor platónico do Super-Homem.

Joanne Siegel dedicou-se a uma das mais conhecidas batalhas judiciais de propriedade intelectual, precisamente a de Jerry Siegel e Joe Shuster, que tinham vendido os direitos originais do Super-Homem à Detective Comics (hoje, DC Comics) por 130 dólares. A empresa acabou por ter que compensar as duas famílias, com vidas marcadas por privações várias. Já nonagenária, em 2008, viu um tribunal norte-americano assegurar a co-autoria do super-herói a Siegel, falecido em 1996.