Os operários heróis de Riopele e CUF

Houve um tempo em que os heróis de domingo trabalhavam em fábricas durante a semana. Em Famalicão, uma equipa jogava "à Barcelona" e, no Barreiro, havia condições de topo que permitiam ombrear com os "grandes". Riopele e CUF desapareceram, mas têm um lugar na história do futebol português.

O Riopele passou pela I Divisão durante uma época, em 1977-78, mas a sua fama vinha do tempo em que jogava no escalão inferior. "Tínhamos uma qualidade de jogo reconhecida. Salvaguardando as distâncias, era como o "tiki-taka" do Barcelona de hoje", recorda Francisco Vital, ponta-de-lança da equipa entre 1974 e 78. O mérito, lembra, era de Ferreirinha, o treinador para quem "era proibido jogar mal".

O jogo bonito não chegou, porém, para manter o Riopele mais do que uma época na divisão principal. "Sentimos a falta do Vital, a nossa principal referência", recorda José Piruta, outro histórico jogador do clube. O ponta-de-lança saiu para o FC Porto - onde foi campeão no ano de estreia, sob o comando de Pedroto. Para o seu lugar entrou o actual treinador do Benfica, Jorge Jesus. "Jogava benzinho, mas o Vital era de outra qualidade", relembra Piruta.

O clube era alimentado pela firma com o mesmo nome, uma das gigantes têxteis do Vale do Ave nesse tempo, que "oferecia emprego a quem quisesse", afirma Piruta. "90 por cento da equipa trabalhava na fábrica. Isso dava uma estabilidade que não era comum no futebol", recorda o antigo atacante, que foi também funcionário do escritório da Riopele.

Foi a estabilidade proporcionada pelos clubes-empresa que levou Mário João, bicampeão da Europa pelo Benfica, a ingressar no clube da Companhia União Fabril (CUF), então a maior empresa nacional. Manuel Fernandes lembra-se bem dessa época, em que fez uso do seu curso industrial para ali trabalhar como operário, todos os dias, entre as 8h00 e as 11h00. O treinador do Vitória de Setúbal guarda ainda na memória as infra-estruturas de excepção do clube do Barreiro.

O CUF tinha dois campos relvados, ginásio e pavilhão desportivo. "Quando cheguei ao Sporting, disse aos meus colegas que na CUF tinha melhores condições para treinar do que em Alvalade", recorda o antigo avançado. Era a época de 1975-76 que viria a ser a última da CUF na I Divisão após 22 anos consecutivos entre os grandes. O PREC nacionalizou a empresa e cortou os apoios ao clube, mudando-lhe também o nome para Quimigal. Desde 2000 que o clube passou a chamar-se Desportivo Fabril, disputando actualmente a III Divisão

Sugerir correcção
Comentar