O escritor Gonçalo M. Tavares

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Gonçalo M. Tavares (M. de Manuel) é um escritor português, tem 40 anos, é considerado o melhor da sua geração PÚBLICO

Recebeu em França o Prémio de Melhor Livro Estrangeiro. Cá, publicou Uma Viagem à Índia que confirma a sua singularidade na História da literatura portuguesa

Quem é?

Gonçalo M. Tavares (M. de Manuel) é um escritor português, tem 40 anos, é considerado o melhor da sua geração. Nasceu em Luanda, em 1970, porque os seus pais (a mãe matemática, o pai engenheiro) estavam em Angola, nessa época. Veio para Portugal aos 3 anos. De Luanda não tem recordações: só o que viu em fotografias. Passou a infância em Aveiro e, aos 18 anos, foi estudar para Lisboa. Formou-se em Educação Física e Desporto (na adolescência, jogou futebol nos juniores do Beira-Mar). É professor de Epistemologia na Faculdade de Motricidade Humana, em Lisboa.

Escreveu todos os dias durante doze anos (gosta de escrever em cafés) mas só começou a publicar livros em 2001. Foi bolseiro do Ministério da Cultura - IPLB com uma bolsa de Criação Literária para o ano 2000, na área de poesia. E em Dezembro de 2001 publicou a sua primeira obra: Livro da dança, na Assírio & Alvim. Nos últimos nove anos, já publicou 29 livros.

Jerusalém

(Caminho) foi o romance mais escolhido pelos críticos do jornal PÚBLICO para Livro da Década. "Um Kafka português", chamou-lhe nas páginas da “Le Figaro magazine”, a escritora francesa Elisabeth Barillé. "Vai Gonçalo M. Tavares tornar-se um produto de exportação tal como o vinho do Porto e a saudade?", perguntava ela. A resposta só pode ser: sim.

O que fez?

"No panorama actual da literatura portuguesa não há ninguém tão aplicado na construção daquilo a que, com muitas suspeitas, chamamos "obra" - mobilizando a ideia de autor, de projecto e de sistema - como Gonçalo M. Tavares", escrevia o crítico literário António Guerreiro no “Expresso”, em 2004. Os anos passam, a análise torna-se mais pertinente. Quando começou a publicar (às vezes, vários livros por ano em diferentes editoras), M. Tavares foi considerado "a maior revelação literária dos últimos tempos". Veio depois a consagração com os prémios literários. Entre outros, em Portugal: Prémio LER/Millennium BCP 2004 e o Prémio José Saramago 2005. No estrangeiro: Prémio Portugal Telecom 2007, Prémio Internazionale Trieste 2008 e Prémio do Melhor Livro Estrangeiro 2010 em França.

Quem nunca leu a obra de Gonçalo M. Tavares pode começar pela série O Bairro, cadernos dedicados aos Senhores, que iniciou em 2002 com O Senhor Valéry e a lógica. É "uma espécie da história da literatura em ficção", uma utopia que vai no décimo volume. Permite uma leitura mais lúdica. Do lado oposto está a tetralogia O Reino, que reflecte sobre o mal, a violência e o medo: Um Homem: Klaus Klump (2003), A Máquina de Joseph Walser (2004), Jerusalém (2004) e Aprender a Rezar na Era da Técnica. Cerca de 160 traduções dos seus livros estão a ser feitas em 35 países.

Porque o escolhemos?

O romance Aprender a Rezar na Era da Técnica, numa tradução de Dominique Nédelle, recebeu em França o Prémio do Melhor Livro Estrangeiro 2010. Até agora, António Lobo Antunes era o único português a quem tinha sido atribuído. Musil, García Márquez, Elias Canetti, Kawabata, Bioy Casares, Vargas Llosa, Durrell, Günter Grass, Rushdie, Pamuk, também receberam este prémio.

O escritor e jornalista francês Pierre Assouline escreveu dia 1 de Dezembro no blogue La République des Livres, no “Le Monde”, que a atribuição deste prémio é só o começo. "O seu projecto literário, que consiste em repovoar, à sua maneira, um bairro que inventou - com silhuetas consagradas da história literária -, é tão fascinante pela lógica interna que o anima que quase reagimos como José Saramago quando lhe disse que escrever tão bem, quando se é tão jovem, "só dá vontade de lhe bater"!"

Este ano, em Portugal, Gonçalo M. Tavares lançou três livros: O Senhor Eliot e as conferências (Caminho), Matteo perdeu o emprego (Porto Editora) e Uma Viagem à Índia (Caminho), uma epopeia do século XXI que narra a viagem de Bloom até à Índia, partindo de Lisboa, escrita com os mesmos cantos e estrofes d’Os Lusíadas. O livro tem um prefácio de Eduardo Lourenço. Vasco Graça Moura considerou-o "um livro extraordinário", que vai marcar "não apenas a História da Literatura Portuguesa, mas provavelmente a cultura europeia". Dentro de cem anos, haverá teses de doutoramento sobre passagens e fragmentos de Uma Viagem à Índia, afirmou o editor Zeferino Coelho.

O que podemos esperar dele?

Quando se comemoravam os 12 anos da atribuição do Prémio Nobel da Literatura a José Saramago, o seu editor, Zeferino Coelho - também editor de M. Tavares -, lembrava que o prémio elevou a nossa literatura. Dizia acreditar que nos próximos anos haverá outro editor português a acompanhar até Estocolmo outro autor português. E brincava: "Até estou convencido que serei eu outra vez!" Saramago já o tinha dito e a mesma opinião tem Graça Moura: "Prevejo que ele virá a ganhar o Prémio Nobel..."

Quanto a livros, para o próximo ano, ainda não tem nada terminado. "Há várias coisas em matéria bruta, logo se verá", diz ao PÚBLICO. O que quero agora é regressar de novo para o meu canto, trabalhar e fazer muitas coisas que ainda não fiz."

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