Era uma vez uma equipa que esgotou os adjectivos e ainda não parou de melhorar

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O Barcelona treinado por Guardiola já entrou para a história Foto: Gustau Nacarino/Reuters

Até quando vai o Barcelona continuar a ganhar? Não há resposta segura para a pergunta, mas analistas ouvidos pelo PÚBLICO concordam que a filosofia do clube está assegurada no futuro.

Pep Guardiola, treinador do Barcelona, já admitiu que lhe faltam adjectivos para descrever as qualidades de Lionel Messi. Mas, antes disso, o técnico já tinha deixado o mundo futebolístico a dar voltas ao dicionário, em busca de palavras capazes de fazer justiça à qualidade do jogo praticado pela equipa catalã.

Os blaugrana tocaram o céu quando conseguiram o feito inédito de vencer seis títulos numa só época (2008-09). Mas continuaram a superar-se. No ano passado, conquistaram a Liga mais disputada de sempre, somando 99 pontos - um máximo histórico em Espanha. Na segunda-feira, num clássico/choque de titãs, golearam o Real Madrid de José Mourinho por 5-0.

"Depois dos seis títulos e dos 99 pontos era difícil jogar melhor futebol. Mesmo assim, este ano acho que [o Barcelona] está a jogar melhor", disse ao PÚBLICO Ramon Besa, jornalista do El País. E o futuro? "A perspectiva é de continuar a ganhar ou, pelo menos, a competir para ganhar. Que vai continuar a jogar futebol é garantido", acrescenta.

"Ganhou tudo, e a jogar bem", concorda Luís Freitas Lobo: "Atingiu quase a perfeição no jogo e nos resultados. Acima disto não há mais nada", completa o analista.

Estilo e identidade

Parte deste sucesso deve-se a uma filosofia que o clube construiu ao longo dos anos. Há um estilo comum a todos os escalões do clube e os jovens jogadores da "cantera" vão reforçando a equipa principal.

"O Barcelona tem estilo e identidade. Ganha e sabe por que é que ganha", nota Luís Freitas Lobo. "É uma equipa estética, virtuosa. [No Barcelona] todos têm que saber jogar à bola", realça Ramon Besa.

Por tudo isto, o "Barça" de Guardiola já garantiu "claramente" um lugar na história, acredita Freitas Lobo. "Daqui a dez, 20 ou 30 anos vai-se falar desta como uma das grandes equipas da história", acrescenta.

"É uma equipa singular e única, que provoca felicidade. Está entre as melhores da história. Para além de ser colectivamente a melhor, tem Messi", completa Ramon Besa.

Não foi por acaso que, no final da goleada aos merengues, Guardiola dedicou a vitória a Johan Cruyff e Carles Rexach, dupla que dirigiu a equipa entre 1988 e 1996, período em que se notabilizou a Dream Team catalã. "Eles mostraram-nos o caminho", disse o treinador.

"Há uma história antes e depois de 1990", reforça Ramon Besa. "[Cruyff e Rexach] são uma espécie de pais fundadores deste estilo. A partir daí o Barcelona começou a formar nas escolas um estilo de jogador mais técnico, mais requintado no passe", nota Freitas Lobo, apontando Fàbregas, Xavi ou Iniesta como protótipos.

Dilema da sucessão

Porém, no horizonte do Barcelona, há um dilema a resolver e que passa pela sucessão de jogadores como Xavi (com 30 anos) ou Puyol (32). A aposta na formação é inequívoca: frente ao Real Madrid, oito dos 11 titulares eram jogadores com percurso nos escalões de formação do clube.

Para Luís Freitas Lobo, a equipa secundária "vai assegurando a dinastia". "Nem todos são o Xavi, mas há uma identidade garantida", sublinha o analista.

Num clube sem tradição de recorrer ao mercado - e com insucessos recentes como Chygrynskiy ou Ibrahimovic - a contratação para director desportivo de Zubizarreta, ex-guarda-redes da Dream Team, pode contribuir para mudar o cenário. "A entrada dele foi importante. O clube procura no mercado jogadores que entendam a filosofia mas que venham de fora, para que o "Barça" não se converta numa equipa exclusivamente de catalães", diz o jornalista do El País.

David Villa, contratado ao Valência no Verão, é um exemplo. "Dá à equipa algo que ela não tinha", aponta Ramon Besa, que considera que Guardiola "tem a equipa que queria". "Se mantiver a estrutura, pode continuar a ganhar", diz. Tudo depende da renovação do contrato que expira no final da presente temporada. "E da vontade dos jogadores de continuar a ganhar", sentencia o jornalista do El País. Pela amostra recente, essa não vai faltar.

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