Investimento recuou mas as exportações voltaram a puxar pela economia

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Teixeira dos Santos prevê, no OE, um crescimento de 0,2 por cento em 2011, um objectivo difícil de atingir Pedro Cunha

Tudo parece encaminhar-se para que 2010 seja um ano bastante melhor do que previam as organizações internacionais e mesmo o Governo. A economia portuguesa manteve, no terceiro trimestre, a tendência de retoma, crescendo 0,4 por cento face ao trimestre anterior e 1,5 por cento em termos homólogos. A procura externa continuou a ser o grande motor da recuperação. Se juntarmos a isto a antecipação de compras que está prevista para o último trimestre, devido ao aumento do IVA a partir de Janeiro, 2010 poderá ser, afinal, um bom ano. Mas o mesmo pode não acontecer com 2011.

Na sua estimativa rápida para o terceiro trimestre, que não apresenta ainda os valores para as várias componentes do Produto Interno Bruto (PIB), o Instituto Nacional de Estatística (INE) diz que a economia cresceu 0,4 por cento em cadeia entre Julho e Setembro, o que compara com um crescimento de 0,2 por cento no trimestre anterior e de 1,1 por cento no primeiro trimestre do ano. José Sócrates apressou-se ontem a classificar estes números como "muito animadores" e até o líder do PSD, Passos Coelho, saudou a "boa notícia".

O maior contributo para o crescimento económico veio do "aumento expressivo das exportações de bens e serviços". Dados divulgados esta semana pelo INE mostram que as exportações de bens aumentaram, em termos nominais, 15 por cento no terceiro trimestre. Isto compensou o contributo da procura interna, que tinha sido positivo no segundo trimestre e foi agora negativo, devido a uma nova quebra do investimento. Do mesmo modo, o comportamento do consumo privado não terá sido tão negro quanto se antecipava.

Com o aumento gradual das taxas de juro, a subida do IVA em Julho e outras medidas de austeridade anunciadas na revisão do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), os economistas estavam à espera de uma contracção maior do consumo privado. Isso não aconteceu e também não deverá verificar-se no último trimestre do ano, graças a um fenómeno de antecipação de compras devido ao novo aumento do IVA já a partir de Janeiro.

Com uma subida do imposto no horizonte e o fim dos incentivos ao abate de automóveis, os consumidores poderão antecipar compras de bens duradouros na fase final do ano, dando um impulso final à economia.

Cristina Casalinho, economista-chefe do BPI, admite que este cenário é o mais provável mas destaca que, ao contrário de aumentos anteriores do IVA, este tem uma particularidade: a certeza de que haverá uma diminuição do rendimento disponível em 2011, devido às medidas de austeridade que estão inscritas no Orçamento do Estado. "O apelo da cautela por ser mais forte do que a tradicional antecipação de compras quando há subida do imposto", alerta. Mas isso não afecta o cenário do próximo ano.

"Já revimos em alta a nossa previsão de crescimento para este ano, dos 1,3 para 1,5 por cento, o que torna o ano de 2011 ainda mais desafiante", afirma Cristina Casalinho. Com um 2010 a encaminhar-se para uma performance melhor do que a prevista, o próximo ano tenderá a ser ainda pior, pois vai ter como termo de comparação um bom ano. Do mesmo modo que este ano foi bom por comparar com um ano muito mau (2009).

Também Filipe Garcia, economista da Informação e Mercados Financeiros (IMF) admite que a antecipação de compras que vai ocorrer no final deste ano vai fazer o consumo privado andar para trás de forma muito pronunciada no início de 2011. "Isso vai permitir um crescimento maior este ano, mas vai pesar mais sobre o próximo", conclui.

No OE para 2011, o Governo prevê que a economia cresça 0,2 por cento, mas esta é de longe a projecção mais optimista quanto à evolução da economia no próximo ano. O Fundo Monetário Internacional (FMI) já admitiu que o mais provável é que o país entre em recessão, contraindo 1,4 por cento, devido ao impacto das medidas de austeridade anunciadas, como o aumento do IVA ou o corte nos salários da função pública.

Acima dos outros periféricos

No cenário europeu, Portugal regista um comportamento bastante mais positivo do que o dos outros países que têm sido alvo da pressão dos mercados. Dados ontem divulgados pelo Eurostat mostram que o PIB da Grécia caiu 1,1 por cento em cadeia e 4,5 por cento em termos homólogos. O PIB espanhol estagnou face ao segundo trimestre e cresceu 0,2 por cento face ao ano passado. Os dados do terceiro trimestre para a Irlanda ainda não são conhecidos.

O ritmo de crescimento das maiores economias da União Europeia (UE) e da zona euro desacelerou entre Julho e Setembro, enquanto Portugal alinhou pela Europa, registando um crescimento em cadeia idêntico à média europeia. De acordo com o Eurostat, a zona euro cresceu 0,4 por cento face ao trimestre anterior, tal como o conjunto dos 27 países da UE. Em termos homólogos, a variação do PIB foi de 1,9 por cento para os países da moeda única e de 2,1 por cento para os membros da UE.

A Alemanha, com um crescimento de 0,7 por cento em cadeia, continua a ser o grande motor do crescimento europeu, mas mostra uma desaceleração em relação ao trimestre anterior, onde tinha crescido 2,3 por cento em cadeia. Seguem-se o Reino Unido e a França, com quedas de 0,8 e 0,4 por cento, face aos 0,4 e 0,3 registados no segundo trimestre. Itália e Espanha caíram de 0,5 para 0,2 e de 0,2 para 0,0 - o que quer dizer que o produto espanhol estagnou no terceiro trimestre. O desfasamento da maioria das grandes economias europeias em relação aos EUA mantém-se, com a maior economia mundial a crescer 3,1 por cento entre Julho e Setembro. Com Paulo Miguel Madeira e Sérgio Aníbal

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