Citroën contrata ex-operários a ganhar menos do que auferiam

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Nova equipa tem para já meio ano de trabalho garantido Nélson Garrido/ arquivo

A partir de hoje entra em pleno funcionamento a terceira equipa da PSA Peugeot Citroën de Mangualde que implicou a contratação de mais 300 trabalhadores, tal como a administração havia anunciado no passado mês de Julho. Muitos deles são ex-funcionários, que irão ganhar menos do que auferiam.

A unidade fabril, que no ano passado despediu mais de 500 operários e aboliu o turno da noite, repõe agora parte da equipa para responder ao aumento de encomendas, nomeadamente dos antigos modelos comerciais Berlingo First e Peugeot Partner. A empresa de Mangualde é a única do grupo que ainda produz este modelo, daí "a necessidade de criar a terceira equipa", justifica Elísio Fernandes, administrador financeiro.

Com a entrada deste terceiro turno, que irá trabalhar em horário nocturno, os postos de trabalho sobem de 900 para 1200, segundo os dados fornecidos pela administração da empresa. Passam a ser produzidos diariamente mais 80 veículos, ou seja, a produção diária aumenta de 186 para 266 viaturas, sendo a produção anual superior a 40 mil veículos, contra os cerca de 34.500 de 2009. Nestes números estão incluídas 900 unidades dos novos modelos Citroën Berlingo e Peugeot Partner.

Entre os 300 novos operários contratados, cerca de uma centena são ex-trabalhadores da PSA que, em 2009, foram atingidos pela vaga de despedimentos. A nova equipa entra hoje em pleno funcionamento, depois de ter recebido 50 mil horas de formação e de ter cumprido uma fase de três dias de testes na produção, acompanhados por trabalhadores experientes. Porém, a empresa garante apenas a manutenção desta terceira equipa durante meio ano, até final de Abril. "Depois teremos de analisar o comportamento do mercado", explica Elísio Fernandes.

Depois da fábrica de Mangualde ter despedido, em 2009, mais de 500 trabalhadores e de ter abolido a terceira equipa, Jorge Abreu, presidente da Comissão de Trabalhadores (CT), aplaude a reposição do turno da noite, mas ressalva que nunca pretendeu mais uma equipa "a qualquer preço". Na origem das críticas estão as condições de trabalho oferecidas aos novos contratados, em particular, aos que no ano passado foram despedidos e que regressam com vencimentos inferiores.

Jorge Abreu considera a situação escandalosa: "São trabalhadores especializados, que tinham um vínculo com a empresa, com vencimentos entre os 700 e os 800 euros e que agora regressam a ganhar metade", sublinha. O mesmo responsável adianta que estes operários, contratados por seis meses, passam a usufruir de um vencimento-base de 440 euros ao qual somam 25 por cento de subsídio de turno, mas, feitos os descontos, relativos à segurança social e IRS, "muitos não chegam a levar o ordenado mínimo para casa", denuncia.

O calendário de trabalho da empresa para este mês de Novembro define que a terceira equipa terá de começar a semana às 23h00 de domingo, sem que seja remunerada como tal, denuncia Jorge Abreu, que aponta outros prejuízos para os novos trabalhadores: "Há semanas em que trabalham seis dias, sendo o domingo abrangido pela bolsa de horas que a CT sempre considerou ilegal", acrescenta.

Numa primeira fase os trabalhadores foram contratados por uma agência temporária, não podendo, por esta razão, ser abrangidos pela bolsa de horas, destinada apenas aos funcionários da empresa.

Na semana passada, estes operários "foram chamados a assinar contratos directos com a PSA, após diversas reuniões entre a CT, a Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) e a administração", conta Jorge Abreu.

Confrontado com as críticas da comissão de trabalhadores, Elísio Fernandes, administrador da PSA, responde que o processo de recrutamento de pessoal é "transparente", recusando-se a alimentar "polémicas" decorrentes de "interpretações exóticas e bizarras", afirmou ao PÚBLICO.

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