Governo mantém optimismo na previsão para 2011

O Governo reviu em baixa a sua previsão de crescimento para o próximo ano mas, ainda assim, manteve a visão mais optimista entre todas as projecções já conhecidas.

Na proposta do Orçamento do Estado (OE), o Executivo aponta para um crescimento residual de 0,2 por cento em 2011, abaixo da anterior previsão de 0,5. Para o ministro das Finanças, a dinâmica das exportações vai impedir que as novas medidas de austeridade empurrem Portugal para a recessão. Mas, segundo parece, o optimismo não foi regra em todas as contas.

Ontem, durante a conferência de imprensa onde apresentou o OE, Teixeira dos Santos admitiu ter assumido um cenário de recessão para elaborar previsões sobre a receita fiscal. Na hora de fazer as contas à receitas dos impostos que prevê arrecadar, o ministro assumiu um crescimento nominal do PIB de um por cento que, aplicando o efeito da variação dos preços, implicaria uma recessão de 0,7 por cento, e não um crescimento de 0,2, como avança nas perspectivas macroeconómicas do OE.

Segundo Teixeira dos Santos, este cálculo é uma medida de precaução contra eventuais deslizes na arrecadação de impostos em 2011, pelo que "não deve ser associado a qualquer cenário alternativo" ao apresentado no orçamento. Mas a verdade é que foi o suficiente para gerar desconfianças sobre se o Governo não estará de facto à espera de uma recessão no próximo ano.

"Dá-me a sensação que nem o Governo acredita no crescimento em 2011", considera Bagão Félix, economista e antigo ministro das Finanças. "Não se percebe se a previsão de crescimento de 0,2 por cento é o ponto intermédio da previsão ou o ponto máximo, ainda para mais quando esta projecção de crescimento é muito dissonante das outras estimativas", reforça Filipe Garcia, economista da Informação e Mercados Financeiros (IMF). Cristina Casalinho, economista-chefe do BPI, também vê a previsão do Governo como demasiado optimista, apontando para uma contracção da economia que poderá chegar a um por cento no próximo ano.

Outros organismos internacionais também já avançaram com as suas projecções. O Fundo Monetário Internacional (FMI) aponta para uma contracção de 1,4 por cento no próximo ano, enquanto as últimas previsões do Banco de Portugal, mesmo sem ter em conta o impacto das novas medidas de austeridade, apontam já para uma estagnação.

Contudo, o Governo parece não ter dúvidas. A economia terá um crescimento residual no próximo ano, sobretudo graças ao comportamento das exportações, que além de aproveitarem o crescimento do comércio mundial, vão beneficiar de uma "significativa recuperação das quotas de mercado". A contribuir positivamente para o PIB estarão também as importações, que vão reduzir-se em 1,7 por cento, enquanto este ano aumentarão 6,7. Segundo o ministro das Finanças, esta diferença é explicada em grande parte pela inscrição dos submarinos como importações este ano.

O consumo público vai cair 8,8 por cento, o que, segundo o ministro das Finanças, vai contribuir para uma "quebra significativa da procura interna" (de 2,5 por cento). A isso junta-se a descida de 0,5 por cento no consumo privado, devido ao impacto das medidas de austeridade, nomeadamente ao aumento do IVA e à redução dos salários da função pública. O investimento vai também cair 2,7 por cento, enquanto a taxa de desemprego vai disparar para os 10,8 por cento.

Para Cristina Casalinho, a previsão do Governo para o consumo privado é razoável, mas quanto ao investimento e às exportações poderá haver riscos. "Vejo as exportações a subirem um pouco menos e o investimento a cair mais", considera a economista. Já Filipe Garcia considera demasiado optimista a previsão do Governo quanto ao consumo privado, bem como em relação às importações. "Além do impacto dos cortes salariais e aumento de impostos, o Governo prevê que as taxas de juro no curto prazo subam, o que vai aumentar os juros dos empréstimos que as famílias e empresas pagam", refere o economista.

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