Nobel da Medicina para o pai da fertilização in vitro

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Robert G. Edwards nasceu em 1925 em Manchester Foto: Bourn Hal/Reuters/arquivo

A época dos Nobel de 2010 arrancou hoje com o galardão da Fisiologia ou Medicina que distinguiu Robert G. Edwards, o pai da fertilização in vitro.

Robert G. Edwards nasceu em 1925 em Manchester, no Reino Unido, e está ligado à Universidade de Cambridge, no mesmo país. Depois do serviço militar na segunda Guerra Mundial, estudou Biologia na Universidade de Gales e na Universidade de Edimburgo, onde completou em 1955 o seu doutoramento com uma tese sobre o desenvolvimento embrionário em ratinhos. Em 1958 integrou o “National Institute for Medical Research”, em Londres, onde se dedicou à fertilização em humanos. A partir de 1963 passou a trabalhar em Cambridge, primeiro na universidade e depois na clínica Bourn Hall, o primeiro centro mundial de bebés-proveta, que fundou com Patrick Steptoe, o ginecologista que foi sempre o seu braço direito nestas investigações.

“A sua descoberta permitiu tratar a infertilidade, uma condição médica que afecta uma larga proporção da humanidade, incluindo mais de dez por cento dos casais de todo o mundo”, explicou a academia sueca, em comunicado. Foi ainda na década de 1950 que Edwards percebeu que a fertilização in vitro poderia ser o caminho para o tratamento da infertilidade, trabalhando, desde aí, em experiências com óvulos e culturas de células. Um empenho que veio a colher frutos a 25 de Julho de 1978, dia em que nasceu o primeiro “bebé-proveta”. Nos anos seguintes, Edwards e os seus colaboradores refinaram as técnicas necessárias e partilharam-nas com médicos do mundo inteiro.

De acordo com dados avançados pela Assembleia Nobel, até ao momento, o investigador já foi pai de quatro milhões de bebés, muitos dos quais já são adultos e até pais. “Uma nova era da Medicina emergiu, com Robert Edwards a liderar o processo desde as descobertas mais fundamentais às mais correntes (...) O seu contributo representa um marco no desenvolvimento da Medicina moderna”, destaca o mesmo comunicado. Para a descoberta de Edwards em muito contribuíram outros cientistas que concluíram com sucesso as experiências com maturação de ovócitos de mamíferos, nomeadamente ratinhos e coelhos, em tubos de ensaio.

Edwards percebeu, contudo, que nos humanos os ciclos são muito diferentes, comparativamente com animais como os coelhos, conseguindo clarificar como se processa a maturação, que hormonas a regulam e em que condição é possível haver fertilização. Conseguiu fertilizar um óvulo in vitro, pela primeira vez, em 1969, mas este não se subdividiu. Partiu para uma nova fase: recolher óvulos já amadurecidos nos ovários através de uma técnica chamada laparoscopia e que gerou grande polémica na época, a par com os diversos debates éticos e religiosos que lançou sobre recriar vida em laboratório.

25 de Julho de 1978

O dia 25 de Julho de 1978 foi um sábado muito especial para o casal Leslie e John Brown, de Bristol, no Sul de Inglaterra. Mas também foi um sábado especial para muitos casais em todo o mundo, que estavam, até aí, impossibilitados de ter filhos naturalmente. Leslie preparava-se para ser a mãe do primeiro bebé-proveta de sempre, uma menina, chamada Louise Brown.

“Comecei a fazer estudos com tecido ovárico humano recolhido em cirurgias. Mas tinha de conseguir fertilizar os ovócitos no laboratório”, contou Edwards, em 2003, aquando da celebração dos 25 anos da sua invenção. As primeiras experiências de Pincus e Saunders, com coelhos, tinham mostrado que bastavam 12 horas para o amadurecimento e fertilização dos ovócitos no tubo de ensaio. Ter acreditado que esses resultados poderiam aplicar-se a células humanas custou-lhe vários desgostos. Até que chegou o dia: "Decidi então esperar 25 horas por três ovócitos que me restavam. De repente, foi a alegria. Agora havia esperança para a fertilização in vitro".

Ainda havia que contornar o problema de como chegar, da melhor maneira, aos óvulos de uma paciente: “Tive de procurar um colega que conseguisse chegar ao ovário de uma forma pouco invasiva. Em 1968, telefonei a Patrick Steptoe para saber como estava a correr o seu trabalho com a laparoscopia.” Steptoe tinha desenvolvido uma técnica de cirurgia minimamente invasiva para recolher os ovócitos. Foi assim que se juntou a equipa que faria nascer, dez anos de trabalho depois, o primeiro bebé-proveta do mundo, a famosa Louise Brown.

Hoje este tipo de fertilização está comummente estabelecida e aceite, apesar de ter sofrido algumas actualizações, como a identificação dos óvulos ser agora feita com o recurso a ultra-sons. O método é seguro e eficaz, sendo que 20 a 30 por cento das fertilizações dão lugar a um bebé. Em Portugal, o primeiro bebé-proveta nasceu a 25 de Fevereiro de 1986.

Semana de anúncios

O anúncio inaugural foi feito esta manhã em Estocolmo e termina na próxima sexta-feira com o Nobel da Paz. O prémio, de dez milhões de coroas suecas (mais de um milhão de euros), pode ser dividido por um máximo de três laureados. Os Nobel serão formalmente entregues em 10 de Dezembro, com o da Paz a ser entregue em Oslo e os restantes em Estocolmo, numa cerimónia presidida pelo rei Carl XVI Gustaf.

Em 2009, o Nobel da Medicina foi partilhado por Elizabeth H. Blackburn, Carol W. Greider e Jack W. Szostak por estudos acerca da forma como os cromossomas são protegidos. A escolha do prémio Nobel da Fisiologia ou Medicina é da responsabilidade da Assembleia Nobel, composta por 50 professores de diversas áreas médicas, reunida no Instituto Karolinska de Estocolmo.

Notícia actualizada às 11h43
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