Casa Pia: nova directora quer “quebrar estigma” por causa da pedofilia

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A nova directora da Casa Pia classifica de descuido grave o que aconteceu na instituição Sara Matos (arquivo)

A nova directora da Casa Pia de Lisboa quer “quebrar o estigma negativo” por causa do escândalo de pedofilia e, entre os projectos que se propõe, conta-se um levantamento do destino das crianças e jovens que passaram pela instituição.

Na primeira entrevista desde que tomou posse como presidente do Conselho Directivo da Casa Pia de Lisboa (CPL), há um mês, Cristina Fangueiro revelou à Agência Lusa que sonha mudar a imagem que actualmente a instituição tem.

“Gostava muito de ajudar a quebrar este estigma negativo que a Casa Pia tem. Não o sinto internamente, mas externamente sim”, disse.

O seu sonho, confidenciou, passa por, “tão breve quanto possível, se voltar a ter a associação de Casa Pia versus criança feliz, versus funcionários e colaboradores de excelência, versus cidadãos saídos participativos, activos - sejam eles quais forem, operários, cientistas ou artistas -- mas cidadãos de referência”.

Cristina Fangueiro acha que “a maior parte das pessoas ainda não sabe o que se faz” na Casa Pia e, para já, quer avançar para saber o que faz quem passou por esta instituição.

Nesse sentido, esta direção vai avançar com um levantamento para saber o que aconteceu às crianças e jovens após a sua saída da instituição, com especial atenção para as crianças de acolhimento.

O objectivo é apurar, “para a história da instituição, o que aconteceu à maioria das crianças que saem daqui, de uma forma consistente”.

“Conhecemos muitas pessoas de referência que passaram pela Casa Pia, mas passaram muitas outras, de que nada se sabe”, disse.

Cristina Fangueiro quer virar a página, mas fez questão de estar na fase final do julgamento do processo de pedofilia da Casa Pia, uma vez que esteve presente na leitura do acórdão, no passado dia 3.

“Estive lá em solidariedade para com a Casa e para com as vítimas”, já que “é inequívoco que houve um descuido grave e as crianças não estiveram devidamente protegidas”, disse.

Sobre as vítimas, recorda que durante o julgamento estiveram “muito ansiosas, principalmente durante a manhã. Depois, foram percebendo que os seus depoimentos eram credíveis”.

Sobre o futuro, defende que “se olhe em frente de outra forma, com outra esperança e expetativa e vontade de voltar a fazer desta casa uma casa de excelência, inovação, como tem revelado ao longo do tempo”.

Para isso conta com a criação de “bolsas de valores individuais”, que permitirão que as crianças e jovens possam ter acesso a bolsas de estudo”.

“Passam por aqui crianças cujos percursos são brilhantes e devia-se apostar muito nelas”, ajudando-as a “completar a sua formação, em Portugal ou no estrangeiro”.

Outra medida anunciada por Cristina Fangueiro é a nomeação de um Conselho de Curadores -- prevista na lei orgânica da instituição -- que será composto por cinco personalidades que funcionem como “uma referência para as crianças e jovens na defesa dos seus direitos”.

O papel destes curadores deve passar por “comentar, intervir e verificar o que cá se vai fazendo e que possam ajudar a dar uma imagem diferente e a potenciar a imagem da Casa Pia”.

Sem revelar nomes, Cristina Fangueiro adianta apenas que estes curadores devem ser pessoas que “defendam os direitos das crianças”.

Cristina Fangueiro, que antes destas funções na CPL era directora do Departamento de Desenvolvimento Social do Instituto de Segurança Social, substituiu no cargo Joaquina Madeira, que esteve mais de quatro anos na instituição.

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