Primeiro-ministro chinês exige ao Japão libertação "imediata e sem condições" de capitão

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Wen Jiabao comentou a partir de Nova Iorque a oferta de negociações feita na véspera por Tóquio Jason Lee/REUTERS

O primeiro-ministro chinês exigiu hoje ao Japão que liberte “imediatamente e sem condições” o capitão de um barco de pesca, ou terá de enfrentar “outras medidas”. Foi a resposta à proposta nipónica para um diálogo sobre a recente crise diplomática.

Wen Jiabao está em Nova Iorque e foi de lá que comentou a oferta de negociações feita na véspera por Tóquio, tornando-se assim no mais alto responsável de Pequim a reagir ao incidente. “Pelo contrário, a China tomará outras medidas”, disse Wen, citado pela agência Xinhua.

O capitão chinês Zhan Qixiong foi detido no início de Setembro, junto com a sua equipa, quando se terá aproximado de dois barcos de patrulha nipónicos, perto de uns ilhéus reivindicados tanto pela China como pelo Japão. Os outros elementos da tripulação foram entretanto libertados, mas as autoridades japonesas afirmaram que o seu responsável só sairá da prisão no fim do mês.

É improvável que qualquer dos dois gigantes asiáticos esteja disposto a arriscar a sua importante relação comercial neste incidente. Desde 2009 que a China se tornou no maior parceiro comercial do Japão, e de Janeiro a Junho as trocas entre ambos atingiram os 147 mil milhões de dólares (mais de 109 mil milhões de euros, o triplo do período homólogo no ano passado).

Mas como lembram analistas ouvidos pela Reuters, o caso veio pôr a descoberto feridas antigas que têm estado tapadas sobretudo por interesses económicos. A China ainda não confia na antiga potência invasora. A crise, a pior entre os dois vizinhos desde 2006, “mostra quão frágil é a relação. E mesmo que do ponto de vista económico haja entusiasmo, o lado diplomático-político continua frágil”, comentou Jeffrey Kingston, da Temple University. “A cabeça fria irá provavelmente prevalecer, mas a parte difícil agora é fazer os dois lados recuar. Um dos lados terá de ceder, e não acho que vá ser a China”.

“O Japão vai ter de libertar o capitão com um aviso ou coisa parecida”, comentou ao “Guardian” um diplomata em Pequim. “É difícil imaginá-los a avançar com uma acusação e a julgá-lo”.

Desde o dia 7 de Setembro que Pequim chamou seis vezes o embaixador nipónico – um número invulgar, como refere a AFP – exigindo a libertação do capitão. Depois de, no domingo ter sido anunciado que isso só aconteceria no dia 29 (caso a justiça nipónica não encontre provas para uma acusação), a China anunciou o corte das relações a alto nível.

Tóquio pediu calma. O primeiro-ministro Naoto Kan comentou numa entrevista ao “Financial Times” que “se isto for resolvido com calma, é totalmente possível que se torne num problema passageiro”.

E ontem, o porta-voz do Governo, Yoshito Sengoku, deu sinais de que procura uma saída para a crise quando pediu “discussões ao mais alto nível, incluindo um diálogo sobre as questões estratégicas logo que possível”.

Menos ameno foi o ministro dos Negócios Estrangeiros, Seiji Maehara, ao declarar peremptoriamente: “As ilhas Sekaku [que os chineses chamam Diaoyu] são parte integrante do território japonês, não há nenhuma questão territorial” para resolver, declarou à televisão NHK. “Quando acontece alguma coisa, resolvemo-la consoante as leis do nosso país”.

Activistas a caminho das ilhas

Os pequenos ilhéus do mar da China Oriental são inabitados e controlados de facto pelo Japão, mas para além da China, também Taiwan reclama a sua posse.

Tóquio e Taipé, por sua vez, não aceitam de ânimo leve a exploração chinesa de gás natural naquela região marítima. E abrir mão dos ilhéus é dar à China luz verde para a extracção. A CNN recorda que esta disputa está também a ameaçar as negociações para a revisão de um acordo de 2008 sobre uma exploração conjunta entre japoneses e chineses das jazidas de gás perto das ilhas e noutras partes do mar da China Oriental.

Já houve outros conflitos antes, mas “desta vez há uma grande diferença”, diz à estação James Manicom, especialista em direito marítimo da Balsillie School of International Affairs em Waterloo, Canadá. “No passado, o mais importante [para ambos] era tentar dissipar esta questão e continuar a controlar o sentimento nacionalista. Agora, o Japão em particular vê [a soberania territorial] como uma questão vital economicamente e como uma questão de segurança nacional”.

Em 2005, um outro incidente diplomático levou milhares de chineses para a rua em protestos por vezes violentos contra o Japão, acrescido de boicotes a produtos japoneses. Agora, as manifestações também já começaram a eclodir.

Hoje, um grupo de chineses de Hong Kong entrpu num barco de pesca rumo aos ilhéus disputados, noticiou a AFP. Há activistas junto com os pescadores. “Vão lá para pescar”, comentou Albert Ho, advogado. “O Governo não tem direito absolutamente nenhum de deter os pescadores que vão pescar”. O activista garante que “não procuram nada que faça aumentar a tensão entre o Japão e a China”.

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