O Braga de Domingos é antes de mais o Braga de Salvador

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António Salvador Foto: Manuel Roberto/arquivo

Os jogadores tiveram direito a manchetes e a cânticos dentro e fora do estádio, o treinador leu mensagens de incentivo em cartazes empunhados por adeptos (Domingos forever), o clube arrastou centenas de bracarenses até ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro, para a recepção da praxe. Mas o momento histórico que o Sp. Braga viveu em Sevilha, com o apuramento para a fase de grupos da Liga dos Campeões, tem outro rosto decisivo. O de António Salvador.

"Há sete anos, quando cheguei a Braga, disse que o projecto era este. E muita gente não acreditou nisso. Hoje, acho que os resultados falam por si e o momento diz que eu tinha razão", desabafou o dirigente, à chegada a Portugal. Há sete anos, quando chegou ao Sp. Braga, António Salvador encontrou um clube que vinha de uma época negra, que vinha de um 14.º lugar no campeonato e que caíra aos pés da Naval, nos 16 avos-de-final da Taça de Portugal.

Foi então, em Fevereiro de 2003, que começou a tentar tirar partido da experiência entretanto adquirida na gestão do Bairro Misericórdia, um pequeno clube dos distritais da Associação de Futebol de Braga. O primeiro treinador que contratou foi Jesualdo Ferreira, uma aposta que resultou num quinto e em dois quartos lugares nas três épocas em que permaneceu no Minho. Seguir-se-iam Carlos Carvalhal, Rogério Gonçalves, Jorge Costa, Manuel Machado e Jorge Jesus, até chegar a Domingos Paciência, o técnico que fez do clube vice-campeão nacional, em 2009-10.

Mas esta, a capacidade de escolher treinadores, é apenas uma faceta de António Salvador. E provavelmente nem é a mais relevante. O empresário do ramo da construção civil distingue-se, sobretudo, pela capacidade de gestão. Pelo faro para os negócios. Percebeu-se isso logo na época 2004-05, quando vendeu Cícero, um jogador que transitara da equipa B, por 3,5 milhões de euros, ao Dínamo de Moscovo. E mais tarde quando fez o mesmo com Diego Costa, um brasileiro contratado a custo zero ao Barcelona de São Paulo e transferido por outros 3,5 milhões para o Atlético de Madrid, em 2007.

Em Julho desse ano, Salvador dava outro passo importante, com o apoio incondicional da câmara municipal, proprietária do recinto: tornava o Sp. Braga no primeiro clube a ceder o nome do estádio, num contrato de 4,5 milhões de euros (o mesmo valor pelo qual transaccionou o guarda-redes Eduardo) com a duração de três anos. Um passo que, aliado ao princípio da "compra de jogadores a baixo custo para valorizar e vender mais tarde" (no reinado do dirigente, o Sp. Braga já encaixou cerca de 33 milhões de euros em vendas), significou um empurrão orçamental.

Qual o peso, então, das receitas já garantidas com o acesso à fase de grupos (7,1 milhões, aos quais se somam 2,1 do play-off mais 2,25 dos direitos televisivos)? "A parte financeira é importante, mas o Sp. Braga sempre foi um clube equilibrado, que honrou sempre os compromissos", explicou Salvador. E a quem imaginar uma mudança de paradigma com este suplemento financeiro, deixa um recado: "Não vamos entrar em loucuras". com David Andrade e Hugo Daniel Sousa

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