Grandes fogos regressaram à floresta, mas sem a dimensão dos anos mais críticos

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Este ano, o maior incêndio do ano foi o de Vilarinho da Furna, em Braga Nelson Garrido

Até ontem, o maior incêndio do ano tinha devorado 4.881 hectares em Vilarinho da Furna, às portas do Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Depois de três anos de ausência, os grandes incêndios regressaram em força. Mesmo assim, de acordo com os números publicados pelo EFFIS, Sistema Europeu de Informação de Fogos Florestais, nenhum dos grandes fogos deste Verão destruiu mais de cinco mil hectares, um número muito distante do recorde atingido em 2003 com o incêndio de Nisa, que registou mais de 41 mil hectares de área ardida. As condições meteorológicas severas e os ventos são factores apontados para explicar a dificuldade de extinguir os incêndios. Por outro lado, a existência de múltiplas edificações na serra condiciona a actuação dos bombeiros que se concentram na protecção dos bens e não da floresta.

Este ano, segundo dados de ontem avançados pelo EFFIS, que, através de vários satélites, regista fogos com áreas ardidas superiores a 20 hectares em toda a Europa e Norte de África, o maior incêndio do ano foi o de Vilarinho da Furna, em Braga, que começou a 7 de Agosto à porta do Parque Nacional da Peneda-Gerês e acabou por lá entrar. São estimados 4.881 hectares ardidos, dados ainda provisórios, que terão que ser verificados no terreno. Isto porque o satélite muitas vezes contabiliza como queimadas zonas que estão dentro do perímetro do incêndio, mas que não chegaram a arder.

Em segundo lugar está o fogo de São Pedro do Sul (ver reportagem), que começou a 6 de Agosto e foi dado como dominado cinco dias depois. Mas na passada quinta-feira ainda houve um reacendimento que assustou a população e irritou o vice-presidente da autarquia, que se insurgiu contra o facto de os militares estarem parados, a ver o fogo passar.

Bastante significativos foram os vários fogos que estiveram durante dias arder na serra da Estrela, tendo destruído parte do parque natural. O EFFIS contabiliza três grandes fogos nesta zona, o maior dos quais em Girabolhos, com uma área ardida de 4.383 hectares. Regista ainda outros dois, um em São Romão e outro em Vila Franca da Serra, respectivamente, com 3.839 hectares e 3.676 hectares destruídos.

O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Duarte Caldeira, insiste que este ano o quadro é muito diferente do vivido em 2003 e 2005, os dois piores anos de sempre a nível dos incêndios florestais. "Temos que nos recordar que, em 2003, de 24 de Julho a 10 de Agosto, havia 14 distritos com incêndios, contrariamente ao que acontece agora, em que os fogos se concentram em meia dúzia de distritos", afirma. E sublinha: "Em 2003, só entre 27 de Julho e 14 de Agosto, arderam 218 mil hectares, ou seja, 51 por cento do total da área ardida do ano". Apenas dez fogos foram responsáveis pela destruição de 211 mil hectares.

António Salgueiro, coordenador do Grupo de Análise e Uso do Fogo, tem estado no teatro dos piores incêndios deste ano. E diz que os ventos, permanentemente a mudar de direcção, têm sido um dos principais problemas. Além disso, salienta a secura da vegetação, "muito disponível" para arder. "Qualquer saltinho agarra logo", adianta, referindo-se às projecções que criam focos secundários e dificultam o combate. A falta de ordenamento, com casas e edifícios no meio da floresta, é outro problema. "A estratégia de combate concentra-se na protecção das pessoas e dos bens, debilitando o combate na floresta", realça.

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