Bancos testados têm 40 mil milhões de exposição a Portugal

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Enric Vives Rubio (arquivo)

Instituições nacionais, espanholas, britânicas, francesas e alemãs detêm níveis elevados de dívida pública portuguesa

Os quatro bancos portugueses que foram sujeitos aos testes de stress realizados em toda a Europa são detentores de 16.629 milhões de euros de títulos de dívida pública português, cerca de 11 por cento do total emitido neste momento pelo Estado. O resto da banca europeia, com destaque para as instituições espanholas, francesas, alemãs e britânicas também dão um forte contributo para financiar a administração pública portuguesa.

Esta informação passou a ficar disponível - embora de forma incompleta - na sequência da publicação dos resultados dos testes de resistência realizados a 91 bancos europeus. Todos tiveram de revelar, de forma inédita, qual a exposição que têm à dívida soberana de cada país europeu. Fizeram isto para que se soubesse quais os que poderão correr mais riscos na eventualidade de um agravamento da crise da dívida pública em alguns países do continente.

Assim, ficou a saber-se que o banco, entre os 91 testados, que mais dívida pública portuguesa detém é a Caixa Geral de Depósitos, precisamente a instituição que tem como único accionista o Estado português. São 6765 milhões de euros que a Caixa investiu nos títulos obrigacionistas nacionais.

A seguir à CGD não vem um banco português, mas sim um grupo espanhol com uma forte presença em Portugal, o Santander. Provavelmente em grande parte através do Santander Totta (as contas desconsolidadas ainda não foram reveladas), o gigante financeiro espanhol tem actualmente uma exposição à dívida pública portuguesa de 5118 milhões de euro.

O Grupo Espírito Santo, com 4688 milhões de euros de títulos soberanos portugueses e o BPI com 4223 milhões, são as instituições se seguem neste ranking.

O BCP fica bastante distante destes valores e mesmo atrás de vários outros bancos europeus. Contribui, neste momento, para financiar o Estado português com 953 milhões de euros, um valor que é quase metade daquele que este grupo financeiro detém em dívida pública polaca, um país onde tem uma forte presença.

Grandes grupos presentes

Não são só os bancos com fortes operações em Portugal que emprestam dinheiro ao Estado português. Os resultados dos testes que já estão disponíveis (vários bancos optaram por ainda não publicar a sua exposição à dívida europeia) revelam que a banca europeia avaliada é detentora de pelo menos 39 mil milhões de euros de títulos de dívida do Estado português (cerca de 27 por cento do total).

E alguns dos grandes grupos europeus estão entre os que mais participam. O grupo belga Dexia, que no início da crise financeira teve de ser ajudado pelo Estado, tem entre os seus activos 2817 milhões de euros de dívida pública portuguesa. Logo a seguir vem o francês BNP Paribas com 2526 milhões de euros.

Da Alemanha e Reino Unido vêm também outros grandes financiadores da administração pública portuguesa, com o maior destaque a ir para o Landebank Baden-Württenberg (com 2170 milhões de euros de exposição a Portugal) e o Barclays (com 1226 milhões de euros). Em Espanha, para além do Santander, o Banco Popular (657 milhões) e o BBVA (546 milhões)também tem montantes assinaláveis de dívida nacional.

Toda esta exposição à dívida nacional poderia ser, em teoria, um factor a prejudicar os resultados obtidos nos testes de stress por estes bancos, uma vez que Portugal, a seguir à Grécia, é o país em que, no cenário mais grave traçado pelas autoridades europeias, veria as suas obrigações do tesouro perderem mais valor nos mercados internacionais.

No entanto, por causa da forma como foi concebido o teste, o impacto até acaba por ser reduzido, uma vez que todos estes bancos, incluindo os portugueses, registam a maior parte dos seus títulos como não estando disponíveis para negociação, afirmando que os irão manter até à maturidade. Nesse caso, apenas um incumprimento de Portugal na amortização da sua dívida (cenário que não foi considerado) os poderia prejudicar.

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