Lei deixa que cinzas de Saramago fiquem num jardim público

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Pilar del Rio está a seguir o desejo manifestado pelo marido Nuno Ferreira Santos

Ainda não está decidido o local, mas as cinzas de José Saramago devem ficar num jardim em Lisboa, debaixo de uma pedra, um lugar público onde as pessoas possam passar e deixar uma flor. Esta era a vontade do autor de "O Memorial de Convento". Pilar del Río, que está à frente da Fundação Saramago, está a dar seguimento ao desejo manifestado pelo marido.

Já foi estudada a regulamentação e é possível cumprir este desejo de José Saramago desde que esteja salvaguardada a inviolabilidade do local. A decisão só será anunciada publicamente quando tudo estiver pronto.

Ainda não está decidido qual será o local escolhido, mas várias hipóteses têm sido pensadas (entre elas o jardim do Alto de Santa Catarina ou o jardim em frente à Casa dos Bicos, que é a sede da Fundação José Saramago, ou qualquer sítio que remeta para a sua obra).

No Decreto-Lei n.º 411, de 1998, lê-se que "as cinzas resultantes da cremação podem (...) ser entregues dentro de recipiente apropriado a quem tiver requerido a cremação, sendo livre o seu destino final".

Ângelo Mesquita, director municipal do Ambiente Urbano, disse ao PÚBLICO que, "se as cinzas forem depositadas no espaço público, a Câmara Municipal de Lisboa tem de aprovar esse acto". No entanto, o director não vê que exista qualquer óbice a essa autorização.

Por sua vez, José Sá Fernandes, o vereador dos Espaços Verdes, questionado sobre se será num jardim ou noutro local, respondeu: "Não sei, o assunto ainda está a ser analisado." Durante os últimos dias tem-se especulado na comunicação social portuguesa e internacional se as cinzas ficariam em Portugal ou se em Portugal e em Espanha. Desde o dia da morte de José Saramago que o PÚBLICO tem noticiado que os restos mortais do Nobel ficariam em Portugal. Anteontem, durante o discurso que o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, fez na cerimónia de homenagem que decorreu no Salão Nobre dos Paços do Concelho, em Lisboa, disse peremptoriamente: "As cinzas de José Saramago descansarão na cidade de Lisboa."

A edição de ontem do jornal Diário de Notícias avançava com a notícia de que a vontade do escritor era que as suas cinzas ficassem num jardim, onde se colocaria uma pedra com o seu nome para que os leitores pudessem "lá ir pôr uma flor de vez em quando".

Não terá sido por acaso que José Saramago pensou num jardim. É uma decisão íntima, não se pode especular sobre ela e Pilar del Río ainda não veio a público explicar a decisão. O que é interessante nesta escolha é que o jardim é um espaço de regeneração. A especialista em jardins históricos Aurora Carapinha lembra que dentro da cidade o jardim é "o espaço de renovação". O jardim "é terra, é coisa natural" e "pode-se sempre renascer". Além de ser "um espaço onde as pessoas vão à procura de silêncio e de quietação." É um espaço de intimidade e ao mesmo tempo de sociabilidade (de desinquietação).

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