O Brasil destapou a fria Coreia do Norte

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Os jogadores do Brasil festejam o segundo golo Foto: Kim Kyung-Hoon/Reuters

Depois de 45 minutos de resistência, a equipa de Dunga marcou dois golos para escalar o Grupo G. O adversário não se rendeu.

A Coreia do Norte estava tapada com uma manta pesada. Agarrou-se a ela até aos 56’, altura em que o Brasil aqueceu. Dois golos. Maicon descobriu um ângulo (difícil) para marcar o primeiro. Robinho traçou um plano para Elano marcar o segundo. Caía o segredo dos norte-coreanos, que nunca se renderam – reduziram sobre o apito final.

Nas bancadas, cobertores sobre as pernas. Na relva, dois aquecimentos completamente diferentes. Carnaval de um lado, uma parada militar do outro. No jogo, durante 45 minutos, quase a mesma coisa. O Brasil de sempre: meias brancas esticadas, futebol relaxado e a bola enrolada com os pitões das chuteiras antes de qualquer movimento. Arma secreta: um par de luvas pretas, contra os quatro graus negativos de Joanesburgo, contra a noite menos brasileira do ano.

Aos poucos os norte-coreanos desvendavam os seus mais bem guardados segredos, posições rígidas, olhos bem redondos e tronco levantado depois do tiro de partida para o contra-ataque. E aos poucos o Brasil sentia que não ia ser assim tão fácil, que o primeiro adversário do Grupo G tem genica, tem garra, tem gosto pelo que faz. Não se trata de chorar durante o hino (e houve quem chorasse), trata-se de lutar pela bola como se esse lance pudesse ressuscitar a selecção que em 1966 caiu nos quartos-de-final (aos pés de Eusébio).

A Coreia do Norte não se resume aos cinco homens que compõem a defesa, um muro vermelho que à distância os brasileiros tentaram derrubar (Elano aos 6’, Robinho aos 7’ e aos 53’). Nem à claque de 30 adeptos seleccionada entre os mais disciplinados. Portugal (e a Costa do Marfim) terá que contar principalmente com An Yong Hak, 31 anos, saltimbanco na liga japonesa e o elo de ligação entre a defesa e o ataque, com o capitão Hong Yong Jo, médio criativo do Rostov da Rússia, 28 anos, isto para não falar do avançado Jong Tae-se, o Rooney do povo norte-coreano.

Passar 45 minutos sem sofrer golos contra o Brasil não é para todos (pois não Carlos Queiroz?). Principalmente se falamos do duelo entre o campeão dos pesos pesados contra o aspirante a peso pluma, o topo do ranking perante o ranking mais envergonhado deste Mundial, o Brasil, cinco vezes campeão (em todos os continentes por onde o Mundial passou), e a Coreia do Norte, duas presenças.

O Brasil não teve muitas oportunidades. Por isso Maicon (56’) fez o que fez, aproveitou uma nesga, rematou na passada, de ângulo difícil. O Brasil tinha tomado conta do jogo há muito tempo – há 56 minutos. Mas até ao 1-0 aquele jogo ainda não era seu. Depois sim. Os norte-coreanos arrancaram mais alguns aplausos da trupe de adeptos, rígidos na bancada, onde a festa era brasileira. Na relva também. Sem Kaká, desinspirado, Robinho foi o rei deste Carnaval. Aos 72’, traçou o destino do jogo. Golo fácil de Elano.

O jogo não terminaria sem um golo com um nome parecido com muitos outros nomes: Ji Yun Nam, kamikaze, fez-se à vida. A sua missão foi um sucesso. Fica o aviso para outros duelos.


A figura
Maicon arriscou e petiscou

“É um craque”, disse José Mourinho na passagem de testemunho Inter-Real Madrid, referindose a um jogador pelo qual se apaixonou nos últimos tempos. Pudera. Maicon é um poço de qualidades. Hoje, a festa brasileira no Ellis Park podia não ter sido tão brilhante. Bastava que Maicon não tivesse acreditado nas suas capacidades. Bastava que o lateral-direito não tivesse arriscado e tentado a sua sorte. Se oBrasil já tinha agradecido a Portugal durante a tarde, à noite abraçou-se a Maicon, autor do golo que destapou a Coreia do Norte.

POSITIVO e NEGATIVO

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Robinho
Ele representou ontem o futebol brasileiro, a arte e a habilidade de moldar a bola. Elano bem pode agradecer o golo ao dom de Robinho.
Ji Yun Nam
Os jogadores mais competentes da Coreia do Norte já viajaram pelo mundo. Hong, Jong e principalmente An. Mas o prémio de consolação vai para Ji Yun Nam, autor de um golo. Uma raridade.

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Kaká
Ocupou uma posição semelhante à de Messi no último jogo da Argentina. Mas não rendeu uma décima parte do argentino.
Centrais da Coreia do Norte
São rijos nas marcações, mas maleáveis nos espaços.

Ficha de jogo
Brasil 2
Coreia do Norte 1

Estádio Ellis Park, em Joanesburgo.
Assistência 54.331 espectadores.

Brasil Júlio César 6; Maicon 7, Lúcio 6, Juan 6, Bastos 6; Elano 7 (Dani Alves 5, 73’), Gilberto Silva 6, Felipe Melo 6 (Ramires -, 84’); Robinho 7, Kaká 5 (Nilmar 5, 78’), Luís Fabiano 5. Treinador Dunga.

Coreia do Norte Ri Myong-guk 5; Cha Jong-hyok 5, Pak Chol-jin 5, Pak Nam-chol 1 5, Ri Kwang-chon 5; Ahn Yong-hak 6, Ri Jun-il 5, Ji Yun-nam 6; Hong Yong-jo 6, Mun In-guk 5 (Kim Kum-il -, 80’), Jong Tae-se 6. Treinador Kim Jong-hun.

Árbitro Viktor Kassai 6, da Hungria.
Amarelos Ramires (88’).

Golos 1-0, por Maicon, aos 55’; 2-0, por Elano, aos 72’; 2-1, por Ji Yun-nam, aos 89’.
Notícia actualizada às 22h16
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