Manifestação contra Acordo Ortográfico no dia de apresentação de conversor

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Os opositores ao Acordo Ortográfico falam na “falta de seriedade científica” que levou a todo o processo Nuno Ferreira Santos

Uma manifestação contra o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (AOLP) foi marcada para hoje, às 17h00, em Lisboa, por um movimento que alega “falta de seriedade científica” na origem e condução de todo o processo.

Francisco Miguel Valada é um dos organizadores do protesto, marcado através da rede social na internet Facebook, e autor do livro “Demanda, Deriva, Desastre”, lançado em 2009 contra o AOLP, que entrou em vigor em Portugal em Janeiro deste ano, na sequência de intensos debates entre opositores e defensores.

Em declarações à agência Lusa, explicou que a hora e o local - junto ao Palácio Nacional da Ajuda - foram escolhidos propositadamente para coincidir com a apresentação, uma hora mais tarde, pela ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, de um conversor para a nova ortografia, desenvolvido pelo Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC).

“Nós contestamos o lançamento deste conversor porque não há nenhuma análise científica imparcial que o valide. O próprio AOLP foi atacado por todos os lados com pareceres científicos imparciais”, sustentou.

De acordo com o Ministério da Cultura, o novo instrumento que vai ser hoje apresentado - com o nome de Lince - consiste numa aplicação informática multi-plataforma que permite a conversão do conteúdo de ficheiros de texto para a grafia implementada pelo AOLP.

Num comunicado divulgado à comunicação social, a tutela da Cultura sublinha que o conversor vai “contribuir para uma rápida adaptação do público em geral às novas regras do acordo”. Financiado pelo Fundo da Língua Portuguesa, o Lince, adianta ainda, “vai poder ser descarregado e utilizado gratuitamente” para fazer a conversão às novas normas.

Para Francisco Miguel Valada, tanto o conversor como o Vocabulário Ortográfico do Português (VOP) criados pelo ILTEC “pecam por falta de reconhecimento científico”. “Não existe qualquer reconhecimento, nem por parte da comunidade científica nem da opinião especializada, da validade da base científica do AOLP, que é a estrutura em que se sustenta este trabalho do ILTEC. Basta ler-se a extensa bibliografia sobre o assunto para se perceber este facto”, aponta.

O autor de “Demanda, Deriva, Desastre”, da editora Textiverso, pós-graduado em Interpretação de Conferência pela Universidade do Minho, considera ainda que “este processo nasceu torto, continua a ser mal conduzido, e vai gerar a confusão na população” porque foram criados no território português dois vocabulários sobre o novo AOLP.

Apontou que além do vocabulário criado pelo ILTEC, a Porto Editora lançou também o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), cujo responsável pela organização científica é o linguista João Malaca Casteleiro. Francisco Miguel Valada acrescenta aos dois vocabulários um terceiro, da Academia Brasileira de Letras, “que também se encontra à venda em Portugal, e, em preparação, um Vocabulário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências”.

“O próprio AOLP, no segundo artigo, prevê a criação de um único vocabulário ortográfico comum da língua portuguesa. Onde está ele?”, questiona.

Sobre o número de manifestantes esperados hoje, às 17h00, no Palácio da Ajuda, Francisco Miguel Valada diz que “será uma surpresa” para os próprios organizadores, mas ressalva que os “apoiantes anti-acordo” no Facebook ultrapassam actualmente os 18 mil.

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