Ministra da Saúde recusa "cortes cegos" e aposta no combate ao desperdício

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Ana Jorge falava à margem da comemoração dos dois mil transplantes renais realizados nos HUC João Henriques (arquivo)

A ministra da Saúde recusou hoje “cortes cegos” no orçamento do Ministério, frisando que a aposta será no combate ao desperdício, nomeadamente através da central de compras da saúde, que entrará em funcionamento em Junho.

“Não podemos cortar cegamente o orçamento do Ministério da Saúde, que já é para manter a qualidade do serviço no que consideramos o mínimo exigível. O que temos de cortar, sim, é naquilo que é o desperdício, naquilo que não é necessário”, disse a ministra, quando confrontada pelos jornalistas com o impacto que as novas medidas de contenção anunciadas pelo Governo terão no sector da saúde.

À margem da comemoração dos dois mil transplantes renais realizados nos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), a ministra disse esperar “poupar muito dinheiro” com a central de compras para os hospitais, que entrará em funcionamento “assim que o conselho de administração entrar em vigor”, o que espera possa acontecer no próximo mês. A nova estrutura permitirá a aquisição de serviços e produtos de consumo comum, o que, na prática, significará “comprar mais barato em quantidade, definindo as regras dos produtos a adquirir e mantendo a qualidade”.

“Gerindo melhor os stocks, não tendo grandes armazéns que são considerados desperdício porque muitas vezes os produtos ficam longos tempos e perdem a validade, introduzindo regras de boa gestão”, permitirá ao Ministério “poupar para poder melhorar a qualidade dos serviços prestados”, esclareceu a ministra. É na prestação dos cuidados à população que o Ministério da Saúde “não quer cortar”, daí o apelo de Ana Jorge, no actual período de contenção, dirigido aos profissionais de saúde e administradores dos serviços, para que haja uma “gestão muito criteriosa”.

“Não tomem a saúde como um bem de consumo”

“Temos de ter em atenção as dificuldades, quer das pessoas, quer do país em global, gerindo bem, que é a forma de podermos garantir que os cuidados de saúde se mantêm para todas as pessoas”, disse. Aos cidadãos, Ana Jorge apelou para que “usem criteriosamente os serviços e não tomem a saúde como um bem de consumo, mas de necessidade primário”.

“Em todos os momentos, a Saúde é sempre muito dispendiosa e em todas as alturas é preciso uma boa gestão, mas obviamente num período como o que atravessamos ainda se redobra a necessidade de podermos ter uma gestão muito criteriosa”, frisou.

A propósito da comemoração dos dois mil transplantes renais nos HUC, a ministra salientou os custos, directos e indirectos do tratamento alternativo - a hemodiálise. Os HUC realizam em média 124 transplantes renais por ano, tendo em 2009 atingido, ao nível da colheita de órgãos, os 42,7 dadores por milhão de habitantes, o que superou os números da “líder mundial” - a Espanha.

Segundo o director do Serviço de Urologia e Transplantação Renal dos HUC, Alfredo Mota, a transplantação de mil doentes representa uma poupança de cerca de 20 milhões de euros, comparativamente aos 30,99 milhões de euros que seriam gastos em hemodiálise.

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