One One

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Era inevitável. Depois de se ter dedicado a registar as mais diversas fontes sonoras, por via da singular utilização da tecnologia e do trabalho de estúdio, Matthew Herbert vira-se para si próprio. "One One" é o primeiro álbum de uma trilogia, a lançar ao longo do corrente ano, e também uma das suas obras mais interiores e pessoais, em que assume a criação de todos os sons e vocalizações.

As obsessões (música, política, sociedade de consumo) são as mesmas de sempre, apesar do maior envolvimento poético das letras e do espaço sónico. "One One" é um disco de melodias simples, ambientes expansivos, guitarras subtis e ritmos preguiçosos, onde cada um dos elementos tem imenso espaço para respirar. Vocalmente, como era de esperar, Herbert não arrisca muito, mas adapta-se sem dificuldade ao edifício sónico, num estilo mais ruminado do que cantado. Cada uma das canções (com títulos de cidades - "Valência", "Manchester", "Milan" ou "Porto") reporta-se a um dia na vida de um homem, e o resultado final, como acontece quase sempre na sua música, é imaginativo e emotivo em doses semelhantes. Apesar de ser um disco um pouco diferente daquilo que conhecíamos de Herbert, existe a mesma capacidade de criar um vocabulário pop com imponderabilidade, calor e intimidade. "One One" é também um disco de reacção aos dois últimos anos em que esteve envolvido no projecto Big Band, onde foi chamado a coordenar cerca de 20 músicos de jazz. Desta feita isolou-se, olhou para si próprio e o que de lá saiu foi mais um excelente álbum de Matthew Herbert.

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