Congratulations

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"Siberian breaks", doze minutos de canção, é o épico central de "Congratulations". Num tema apenas, temos os Pink Floyd encarcerando as harmonias vocais dos Mamas & Papas num "space shuttle", Syd Barrett e Leonard Cohen unidos pelo romantismo barroco de um cravo ou as digressões cósmicas dos Harmonia em versão bombástica, com a bateria a ressoar, altíssima, entre vagas de sintetizadores.

Quando o ouvinte chegar a "Siberian breaks", a sexta canção do álbum, já terá percebido que os MGMT de "Congratulations" não são os mesmos de anteriormente, os das pinturas faciais e aspecto neo-hippie. Genericamente, não há cá "Kids", não há aquela ligeireza pop, muito sabida e muito inspirada (o riff de sintetizador de "Time to pretend" vale-lhes a imortalidade), que fez de "Oracular Spectacular" um clássico moderno adoptado por todos. É certo que, excluindo as três canções que se tornaram a face visível desse álbum ("Kids", "Time to pretend" e "Electric feels"), o corte não é radical. Sem elas, porém, o quadro em que pintávamos os MGMT fica substancialmente diferente. E, mais que tudo o resto, mudou o tom e a intenção. Os MGMT eram hedonistas gozões e, portanto, algo como o funk branco e os falsetes de "Electric feels" faziam todo o sentido. Agora, que são escapistas muito sérios no seu escapismo, têm épicos de doze minutos. São menos imediatos e exigem-nos mais atenção, mas não estão piores por isso. "Congratulations" é uma caixinha de inventividade, um contínuo e muito bem orquestrado jogo de referências onde as visões de visionários se vão sucedendo até se transformarem numa outra coisa. A fantasia de Marc Bolan em "I found a whistle", o glam de Ziggy Bowie em "Someone's missing", o punk em carrossel colorido na tresloucada "Brian Eno", a saudável loucura dos Flaming Lips assomando aqui e ali e o sentido dramático dos Sparks a agraciar este carrossel de psicadelismos tingidos à moda de 60. Ou seja, temos flautas e órgãos Farfisa, cravos e coros preenchidos de eco, guitarras havaianas e cítaras - canções em mutação constante, tecidas em ambiente nocturno por sonhadores pop que se aborreceram com a realidade. "Congratulations" é um álbum para ouvir de auscultadores. Não dá espaço a experiências comunais e, provavelmente, muitos do que fizeram a festa ao som de "Oracular Spectacular" não estarão interessados em trocar o festim por uma experiência mais insular. Mas disso, naturalmente, não terão culpa os MGMT e a belíssima homenagem ao psicadelismo clássico que gravaram.

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