Um só auditório não chegou para a última aula do filósofo José Gil

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José Gil, 71 anos, aposenta-se Enric Vives-Rubio

Todos no anfiteatro ocupado e, depois, gente no chão, a entupir os corredores e a transbordar para o hall de entrada, onde foram montadas colunas de som: teriam sido necessários dois auditórios da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa para receber todos os que ontem assistiram à última aula do filósofo e ensaísta José Gil.

Aos 71 anos, José Gil, especialista na obra do filósofo francês Gilles Deleuze, de quem foi aluno em Paris, e há cinco anos considerado pela revista Nouvel Observateur como um dos 25 maiores pensadores do mundo, aposenta-se.

Amigos, antigos alunos e colegas de departamento, como a também filósofa e ensaísta Filomena Molder, artistas como Joana Vasconcelos, Pedro Calapez e Marta Wengorovius, o escritor Rui Zink, a coreógrafa Vera Mantero ou a realizadora Rita Nunes, estiveram entre os que, após três horas de aula, ovacionaram o autor de obras como A Imagem Nua e as Pequenas Percepções (1996), Movimento Total - O Corpo e a Dança (2001), O Imperceptível Devir da Imanência (2008) ou o inesperado best-sellerPortugal Hoje - o Medo de Existir (2004).

Na última aula: mergulho em profundidade num universo de questionamento sobre a génese da linguagem artística e os processos filosóficos para a sua análise (o tema da aula era A Formação da Linguagem Artística e a Filosofia). A tela Quadrado Negro Sobre Fundo Branco, a conhecida obra de 1915 de Malevitch, fundadora do Suprematismo russo, serviu de ponto de partida para uma aula em que José Gil explorou alguns dos conceitos centrais do seu pensamento filosófico, nomeadamente na área da fenomenologia, base das suas importantes contribuições, por exemplo, para os estudos pessoanos. "É impossível pensar sem risco", disse no fim. Foi antes da ovação.

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