Habitação social das ilhas e bairros do Porto não mudou na última década

Alunos de Arquitectura fizeram investigação nas ilhas e bairros do Porto que permitiu identificar problemas sociais que persistem, o que leva a concluir que a requalificação é a solução, mas não como é feita no Porto

A conclusão não é muito animadora. "A realidade é que continuamos como há dez anos", lamenta Fernando Matos Rodrigues, referindo-se à investigação realizada nas ilhas e bairros do Porto pelos seus alunos de Antropologia do Espaço do curso de Arquitectura da Escola Superior Artística do Porto (ESAP).

Nesta escola acredita-se que a arquitectura certa pode ser um bom ponto de partida para a criação de relações sociais saudáveis. Foi por isso que um grupo de alunos vestiu a pele de antropólogo por algumas semanas e foi ver como se vive nos bairros e ilhas do Porto no século XXI. Dado que um arquitecto "deve projectar em função de lugares que são habitados por pessoas", explica o director do curso, Nicolau Brandão, é imprescindível que os alunos tenham um conhecimento efectivo da realidade.

Para os futuros arquitectos há uma certeza: o caminho deve ser o da requalificação dos bairros e ilhas da cidade. Mas não da forma como está a ser feito. "A câmara não tem um plano estratégico, tem um plano económico", assegura Fernando Matos Rodrigues, questionado sobre a política de habitação social adoptada pela Câmara Municipal do Porto.

Mas há diferenças entre os problemas dos bairros e das ilhas que devem ser clarificados: se no primeiro caso a perda de vínculos sociais e afectivos entre os moradores é o que precipita muitos dos problemas existentes, no segundo há ainda um sentido de comunidade e entreajuda que minimiza as condições precárias em que os moradores habitam.

Bairros versus ilhas

Vamos por partes. No que aos bairros diz respeito, o trabalho tem sido de "lavagem de fachadas", diz o docente de Antropologia. "Os problemas de fundo permanecem, estão a deslocar-se pessoas, a limpar os bairros mais visíveis e nada mais." O arquitecto Nicolau Brandão acredita que a requalificação destes espaços deve ser pensada para as pessoas que lá vivem, porque "a mudança de população nunca é uma solução".

Na visita às ilhas da Rua de São Vítor (são mais de 30), os alunos notaram uma nova tendência: para minimizar os problemas de falta de espaço, alguns moradores têm apostado no crescimento das casas em altura. Pode ser uma "boa forma de rentibilizar e maximizar recursos", mas apenas se for correctamente estruturada, avisa o director do curso. As poucas obras que se fizeram nas ilhas, nos últimos anos, foram "financiadas pelos privados". E as condições de habitabilidade são fracas, na maior parte dos casos, como sugerem rendas que variam entre dez cêntimos e os 45 euros. De uma forma genérica, "a reabilitação é mesmo a medida que implica menos custos económicos", rematam os professores.

Os trabalhos dos alunos - que incidem sobre bairros como Contumil, São Tomé, Lordelo do Ouro, Aleixo, Cerco ou Lagarteiro - vão ser expostos numa galeria do centro da cidade a partir de Abril.

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