Lepra erradicada na Europa mas ainda endémica na Índia e Brasil

O Dia Mundial do Leproso assinala-se hoje. A doença está erradicada da Europa como problema de saúde pública, mas mantém-se endémica em outras regiões. O Brasil é o segundo país do mundo com mais casos, depois da Índia.

Segundo dados disponibilizados à Lusa pelo Instituto Nacional de Estatística, registaram-se em Portugal 11 casos em 2008, último ano em que há dados contabilizados, menos um do que em 2007.

“Em Portugal, o número de casos da doença de Hansen (como também é conhecida a lepra) não tem relevância. Estão dentro da média registada nos últimos 20 anos, vai sempre oscilar nesses números”, disse Maria Raquel Vieira, especialista do Hospital Curry Cabral, em Lisboa. A responsável acrescentou que nenhum dos casos registados tem origem em Portugal, mas antes em pessoas oriundas de África e do Brasil, “como consequência das migrações”.

A lepra é causada por uma bactéria que, nos casos mais graves, pode deixar os doentes desfigurados ou provocar invalidez severa se não for tratada. “É uma doença crónica porque, embora tenha cura, pode deixar os doentes com sequelas permanentes. É uma doença muito estigmatizada porque tem lesões à vista”, explicou Maria Raquel Vieira.

Os pacientes são tratados com antibióticos “em ambulatório” e hoje, em Portugal - ao contrário do que sucedeu nos anos 40 e 50 quando os doentes eram sujeitos a internamento compulsivo e isolamento - “geralmente não é necessário internamento”, frisou a especialista do Curry Cabral.

“Hoje em dia, com diagnóstico feito de forma o mais precoce possível, a cura é efectiva e as sequelas são mínimas”, sustentou.

Considerada erradicada como problema de saúde pública em Portugal e na Europa - por haver menos de um caso por cada 10 mil habitantes - a lepra tem uma incidência “substancialmente diferente” em países como o Brasil, Nepal ou Timor-leste, entre outros, onde é considerada uma doença endémica.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, o Brasil é o segundo país com o maior número de casos de lepra, apenas superado pela Índia, responsável por metade dos cerca de 250 mil novos casos anualmente notificados no mundo.

Ouvido pela Lusa, João Ferreira, director da Associação Portuguesa de Amigos de Raoul Follereau (APARF), define a doença de Hansen como “filha primogénita da pobreza e, em especial, da fome”, apontando como “causas principais” da sua propagação a má nutrição, falta de água potável e falta de higiene.

Considerado o “amigo dos leprosos”, Raoul Follereau, patrono da APARF, esteve na base da criação do Dia Mundial dos Leprosos - instituído pela ONU em 1954 - que se comemora no último domingo de Janeiro.

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