Arte de intervenção será o ponto alto da programação de Serralves para 2010

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Serralves anunciou programação para 2010 Paulo Pimenta

No ano em que se comemora o centenário da República Portuguesa, o Museu de Serralves dedica uma ambiciosa exposição à arte de intervenção cívica e política. “República – Às artes, cidadãos!” – título que joga com o primeiro verso do refrão da Marselhesa, usado como palavra de ordem na Revolução Francesa – pretende constituir-se como um balanço da presença da referência política na arte contemporânea dos últimos 20 ou 30 anos. A exposição abrirá em Novembro e será um dos pontos altos da programação para 2010, agora anunciada.

João Fernandes, director do Museu de Serralves e comissário da exposição, ainda não tem fechada a escolha de autores e obras, mas adianta que esta incluirá suportes documentais que permitirão integrar os trabalhos expostos no contexto da arte do século XX, e no modo como esta se relacionou com as grandes convulsões políticas e sociais, como a revolução soviética, a emergência dos fascismos europeus ou a guerra civil espanhola.

Acompanhada de um ciclo de cinema e de um colóquio, “Às artes, cidadãos!” pretende ser também um exercício crítico, mostrando, por exemplo, sublinha Fernades, como se passou de um contexto em que os artistas trabalhavam quase sempre à margem das várias instituições de poder para o período em que hoje vivemos, no qual “a arte política está integrada nas instituições, e até no mercado”.

O verdadeiro início da nova temporada de Serralves inicia-se em Março, após o encerramento das últimas exposições que ainda transitaram de 2009. A primeira novidade é o regresso de Lourdes Castro, numa exposição antológica que reúne pela primeira vez os trabalhos que esta realizou com o seu companheiro Manuel Zimbro (1944-2003), designadamente o “Teatro de Sombras”, que teve grande notoriedade nos meios artísticos europeus da segunda metade da década de 70. A par das obras de colaboração, serão ainda mostrados vários trabalhos individuais de Zimbro, que se radicou em Paris nos anos 60, como assistente de René Bertholo, e ali conheceu Lourdes Castro e outros artistas do grupo KWY.

Ainda em Março, Serralves mostrará a obra de Dara Birnbaum (EUA, 1946), uma das primeiras artistas plásticas a usar a televisão, muitas vezes numa perspectiva crítica, como no seu pioneiro vídeo-clip “Wonder Woman”, de 1979, uma desconstrução feminista da célebre série televisiva homónima.

Ressalvada a exposição de José Barrias, um artista português radicado em Milão, as principais mostras individuais que Serralves propõe para 2010 são todas de mulheres, uma circunstância que, especialmente por não ter sido deliberada, deixa satisfeito o director do museu. “Só reparámos nisso quando a programação já estava feita, e, se fossem todos homens, se calhar nem sequer tínhamos reparado”, diz Fernandes.

O nome mais forte é provavelmente o da pintora Marlene Dumas, nascida na África do Sul em 1953, mas há muito radicada na Holanda, cuja singularidade no contexto da arte contemporânea passa pelo modo como simultaneamente conserva e trangride os modos de representação clássicos da arte figurativa ocidental. A sua obra, pouco mostrada em Portugal – embora tenha já tido uma exposição na Gulbenkian –, poderá ver-se no Porto a partir de Julho. No mês anterior, Serralves inaugura ainda exposições da inglesa Ceal Floyer (n. 1968) e da video-artista italiana Grazia Toderi (n. 1963).

O habitual ciclo Exposições Na Biblioteca traz este ano mostras do mexicano Ulisses Carrión e do norte-americano James Lee Byars (1923-1997), uma reunião de trabalhos fotográficos de 30 autores realizados para livros de artista, e ainda uma exposição de esculturas de papel, com obras de Lichtenstein, Warhol, Dieter Roth, Damien Hirsch e vários outros.

Como sempre, as iniciativas da Fundação de Serralves alargam-se a outras artes, com ciclos como o Sabor do Cinema, em Março, ou Documente-se! (Abril e Maio), que inclui música, dança, teatro, instalação, cinema, debates e conferências, e que este ano é dedicado ao tema “Sentidos do Reconhecimento”. Em Outubro regressa o Trama – Festival de Artes Performativas, mas, antes disso, Serralves recebe, em Julho, mais um Jazz no Parque, que este ano abre com o trio do pianista Vijay Iver (dia 10), prossegue com o trio de Bernardo Sasseti – transformado em quarteto com a participação especial do saxofonista Perico Sambeat (dia 17) –, e fecha, a 24 de Julho, com um concerto do projecto Contact, que juntará no mesmo palco o saxofonista e flautista Dave Liebman, o guitarrista John Abercombrie, o pianista Marc Copland, o baterista Billy Hart e o contrabaixista Drew Gress.

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