Metade dos católicos está de acordo com o casamento dos padres e quase metade favorável à ordenação de mulheres. Num inquérito em seis arciprestados (divisão eclesiástica correspondente ao concelho) da diocese de Braga, estes são os resultados mais surpreendentes, tendo em conta que estamos a falar de uma das zonas onde o catolicismo mantém referências mais tradicionais.

"Não esperava tanta concordância" com a possibilidade de ordenar mulheres e ter padres casados, diz ao PÚBLICO Vera Duarte, socióloga e professora do centro de Braga da Universidade Católica Portuguesa (UCP). Ainda mais se se pensar que a grande maioria entre os que respondem (90 por cento) se identifica como católico e 80 por cento se declara católico com prática religiosa regular.

Coordenadora do estudo, Vera Duarte divulgou estes dados durante o congresso sacerdotal que hoje termina em Braga e que pode ser acompanhado ao vivo na Internet (www.congressocaerdotal.com). A investigadora da UCP nota que não há diferenças significativas entre as diferentes características sociodemográficas (idade, género, habilitações) ou religiosas (católicos, não-católicos) entre os que concordam ou discordam.

Os resultados, nos dois temas, estão partidos a meio: 49 por cento concordam com a existência de padres casados, contra 46 por cento que discordam; e 46,3 por cento concordam com a possibilidade de ordenar mulheres - neste caso, contra uma ligeira maioria de 49,8 por cento que discorda da ideia. Em ambos os casos, os restantes inquiridos manifestam indiferença perante a resposta.

Segundo o mesmo inquérito (que será alargado a todo o território da diocese), há uma maioria de pessoas que rejeita a possibilidade de o padre ter outras actividades profissionais (53 por cento, contra 42,7 por cento). Mais clara ainda é a rejeição concreta do envolvimento dos padres na política: 64 contra 34 por cento.

Esta recusa do envolvimento em outras actividades pode ter relação com o que as pessoas mais dizem desejar do padre: mais de 90 por cento querem-no solidário, generoso e disponível. E pode também estar relacionado com os padres que, nos últimos anos, se têm envolvido em actividades partidárias, no território da diocese de Braga. Vera Duarte admite a possibilidade, tendo em conta que essa tem sido a opinião do arcebispo, mas diz que não havia perguntas para testar se essa era a causa imediata.

No debate realizado ontem à tarde, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que a questão da ordenação de mulheres pode vir a ser possível e que não é essencial para a fé cristã. Tal como o casamento de padres - e citou o caso dos pastores anglicanos recebidos na Igreja Católica e que já eram casados.