Dez em cada cem doentes contraem infecções nos hospitais portugueses

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Aumento de mortes por infecção não constitui surpresa, diz especialista Paulo Pimenta

Quase dez em cada cem doentes (9,8 por cento) contraem infecções nos hospitais em Portugal, indicam os resultados preliminares do último inquérito de prevalência ontem divulgados no Porto por Cristina Costa, da Direcção-Geral da Saúde.

Significa isto que a transmissão de infecções nos hospitais está a aumentar em Portugal? Uma leitura apressada dos números indicaria que sim, porque se verificou um acréscimo relativamente ao último inquérito de prevalência de infecção hospitalar, feito em 2003, e que apontava para uma taxa de 8,4 por cento.

Mas Cristina Costa, que é coordenadora do Programa Nacional de Prevenção e Controlo da Infecção Associada aos Cuidados de Saúde, nota que no inquérito realizado em Março deste ano as definições de infecção hospitalar foram actualizadas e tornaram-se mais abrangentes, o que pode justificar uma parte do incremento. Também o número de hospitais que respondeu quase duplicou em relação a 2003 (114, públicos e privados).

Mesmo com estes números, Portugal está dentro das médias a nível internacional, que oscilam entre os quatro e os 12 por cento, disse a especialista, que garantiu que o aumento não constituiu propriamente uma surpresa. "Tratamos doentes cada vez mais graves, com co-morbilidades, mais idosos e mais prematuros de muito baixo peso", explicou.

Em Portugal, não há dados sobre a mortalidade provocada por este grave problema de saúde pública. Mas na Europa todos os anos cerca de quatro milhões de doentes contraem infecções nos serviços de saúde e 37 mil acabam por morrer.

Cristina Costa adiantou ainda que a taxa de adesão dos profissionais de saúde à campanha de higienização das mãos em curso foi 46,7 por cento (noutro inquérito), valor que também é similar à média de outros países. Esta taxa de adesão à campanha não significa que os profissionais não lavam as mãos, mas sim que não seguem as regras definidas, esclareceu.

Os dados foram revelados durante um encontro realizado a propósito do Dia Europeu de Sensibilização para o Uso Racional do Antibiótico e que serviu para alertar para os níveis crescentes de resistências devido ao uso muitas vezes desnecessário destes fármacos. O principal problema em Portugal tem a ver com a utilização de quinolonas, antibióticos de largo espectro, lembrou José Artur Paiva, do Hospital de São João. "É num círculo vicioso: usamos demasiados antibióticos, por isso seleccionamos bactérias multi-resistentes que nos levam a infecções potencialmente mais graves, que [por sua vez] levam ao aumento do espectro dos antibióticos", descreveu. E Armando Brito e Sá, médico de família, aproveitou para destacar um mistério português: o facto de não haver penicilina oral à venda, só injectável, ao contrário do que acontece em Espanha e outros países. A penicilina é bem mais barata do que outros antibióticos.

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