Pistolas de D. Pedro IV recuperadas depois de terem sido roubadas em 1973

Foto
As pistolas têm ouro e prata Daniel Rocha

Ao fim de 36 anos as pistolas de el-rei D. Pedro IV foram recuperadas. Roubadas do Museu Militar de Lisboa, em 1973, andaram pela Alemanha e por Inglaterra. No início deste mês, depois de terem sido vendidas a um coleccionador nacional, foram recuperadas pela Polícia Judiciária (PJ) no Palácio do Correio Velho, onde iriam ser leiloadas por um montante que poderia atingir os 100 mil euros.

Concebidas pelo mestre armeiro do Arsenal Real de Lisboa, Thomás Jozé de Freitas, as armas (exemplares únicos que se carregam após se desenroscarem os canos, e que possuem embutidos em ouro e prata) acabaram por ser roubadas, juntamente com um conjunto de peças de menor valor, por um gatuno que, à época, teve direito a páginas nos jornais mas que, longe de ser um Arséne Lupin, se haveria de revelar como um “ladrilho”, pois que furtava sem atender sequer ao valor aproximado dos bens. Ainda assim, ficou célebre pelo método, simples mas eficaz, que escolheu para praticar o crime: escondeu-se dentro do museu, atrás de um relógio de grandes dimensões, e quando se achou sozinho, pilhou o que estava mais à mão.

Em 1977, este homem, que vivia do que conseguia furtar e que não tinha paradeiro certo, pernoitando em pensões baratas de Lisboa, foi identificado e detido pela PJ. Presente a tribunal, acabou por dormir nos cinco anos seguintes nos calabouços de uma penitenciária. Disse então que vendera as pistolas, tal como as outras peças desaparecidas do Museu Militar, a um coleccionador alemão.

As pistolas de D. Pedro IV acabariam, em 1991, por viajar para Londres. É que o alemão que as comprara ao gatuno lisboeta faleceu e, tendo-as deixado de herança a um filho, já não pode evitar que este, precisando de dinheiro, as vendesse. Por essa altura já o estado português tentara junto das autoridades alemãs recuperar o espólio sem que, no entanto, os tribunais o atendessem. É que, na altura, consideraram que a transacção fora legal.

Foi assim que as afamadas pistolas, fabricadas em 1817, chegaram à não menos badalada leiloeira londrina Christie’s. Em data que não foi possível apurar foram resgatadas por um coleccionador português e trazidas para o país.

As pistolas foram postas em leilão, juntamente com muitas outras peças, e ficou a saber-se que estes conjuntos eram provenientes de três proprietários diferentes ­– Colecção Miguel Quina, Colecção António Capucho e Colecção Marquês Fontes Pereira de Mello. Hoje, contactado pelo PÚBLICO, Luís Castelo Lopes, do Palácio do Correio Velho, escudou-se no segredo profissional e de justiça para não revelar qual o proprietário.

A PJ, que mantém uma relação estreita com todos os antiquários e leiloeiras, confirma que a que se preparava para vender as pistolas no passado dia 8, colaborou sem problemas para ajudar a resolver um dos mais intrincados casos de roubo de obras de arte em Portugal.

Sugerir correcção
Comentar