José Sócrates sublinha no Porto a “profunda unidade” do partido

Mário Soares fez hoje o mais audaz apelo aos eleitores desta campanha: “Dêem uma vitória muito confortável ao PS nas eleições do próximo domingo”. Horas depois de ter confessado aos jornalistas que o PS “talvez não [renove] a maioria absoluta” e que não o “repugna” uma coligação com o BE, o fundador do partido subiu ao palco para fazer o elogio a José Sócrates, o “homem do momento e para o futuro”.

O megacomício do Porto, que contou com cerca de 10 mil pessoas na Praça D. João I, foi o culminar de três dias em que se pretendeu representar a “profunda unidade do PS”, como sublinhou Sócrates. Primeiro em Braga, ao lado do seu opositor António José Seguro, depois em Coimbra, onde esteve acompanhado pelo seu crítico Manuel Alegre, e ontem no Porto, onde mergulhou, com Soares, na história do partido.

“Todas as gerações do PS estão empenhadas neste combate, o PS que está aqui é o PS de Ferro Rodrigues, António Guterres, Jorge Sampaio, Vítor Constâncio e Mário Soares que está aqui ao meu lado”, sublinhou Sócrates. Mas só o último disse presente até agora na campanha socialista de entre os nomes evocados. Isto depois de, na véspera, Alegre ter defendido que o PS não precisa de evocar as personalidades do PSD, como fizera Luís Amado em Leiria, porque tinha as suas próprias referências.

Uma dessas referências é já, segundo Soares, o próprio José Sócrates. “O primeiro-ministro aprendeu muito com esta crise e com estes quatro anos de Governo e todos sabemos como foi duro governar depois da catástrofe que o PSD nos deixou”, afirmou o primeiro secretário-geral socialista.

Em contraste, o fundador do PS criticou Manuela Ferreira Leite sem a citar: “Quando uma economista confunde a crise de 2003 com a actual ou é fanática ou é irresponsável”. Para mais tarde aludir à asfixia democrática tão repetida pelo PSD. “A nós socialistas portugueses ninguém nos dá lições de democracia e liberdade”.

“Não vejo no horizonte político nacional ninguém que em competência, em rigor, em amor a Portugal e aos mais pobres se compare com José Sócrates”, considerou Soares. Para acrescentar que “nenhum político em Portugal foi tão injuriado e tão difamado desde o 25 de Abril até hoje”.

Por várias aclamado em coro por milhares de pessoas que gritavam “Soares é fixe” – o slogan da primeira campanha presidencial que ganhou contra Freitas do Amaral -, o ex-líder socialista acabou por passar o testemunho ao actual: “Por isso vos digo: Sócrates é fixe”. E a multidão não mais o largou.

“O partido da grande depressão”

Coube ao cabeça de lista pelo Porto, Alberto Martins, fazer o jogo das diferenças entre os dois principais projectos em disputa. “A alternativa de Governo é entre o PS e a direita, entre o Estado Social e melhores serviços públicos para todos ou o rasgar e romper com as políticas sociais e as novas fronteiras de igualdade que queremos criar”. Uma alusão implícita ao casamento homossexual a que ninguém do PS ainda fez referência directa na campanha eleitoral.


“O PSD é um partido conservador, neoliberal e situacionista. O PSD de Manuela Ferreira Leite é neste momento de crise o partido da grande depressão”, criticou o líder parlamentar socialista. “Nós vamos derrotar a inveja, o maldizer, a intriga e a mentira que são velhas doenças, o cancro de Portugal”, bradou Alberto Martins, contrapondo a defesa dos valores da Revolução Francesa: “A liberdade, igualdade e a solidariedade são caras ao povo português”.

Antes, o número dois da lista do Porto, Teixeira dos Santos, atacara a esquerda “comunista e radical” que “oferece nacionalizações que isolam Portugal no mundo e põem fim ao financiamento da economia”. “Esta esquerda radical deixou cair a máscara: quer acabar com os benefícios fiscais, quer ir buscar mil milhões de euros às famílias”, sublinhou o ministro das Finanças. Para ironizar: “Isto não é uma pedrada, é um verdadeiro bloco atirado à classe média”.

Uma preocupação com o Bloco de Esquerda que já tinha sido revelada no almoço-comício em Matosinhos, quando o porta-voz do PS João Tiago Silveira classificou o BE como “uma miragem”, dizendo que “as miragens não resistem ao teste da realidade”. Uma mensagem clara contra “a dispersão dos votos que favorece a direita”.

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