xx

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Na música dos The xx, em primeiro lugar, está a estrutura. Um ritmo, uma linha de baixo, uma guitarra serpenteante, em redor do espaço, e duas vozes num jogo de movimentos circulares. É um esqueleto com compasso, alma e silêncio, capaz de definir os contornos de uma ideia nuclear. Canções assim, descarnadas, aparentemente clínicas, podem ser destituídas de calor e emoção. Não é isso que acontece aqui.

Por vezes o som parece procurar o silêncio. O tempo de exposição gera a quase imobilidade. Mas essa apetência pela profundidade de campo apenas tem o efeito de fazer sobressair as superfícies de pele que envolvem um corpo sonoro reduzido. É um disco de uma era em que já não interessa tanto caracterizar os géneros que o atravessam (rock, pop, electrónicas, dubstep, R & B), nem perder tempo a enumerar influências - dos anos 50 aos dias de hoje são inúmeras, sem se fixarem em nada em particular -, de tal forma aquilo que nos é devolvido vem moído e transformado. Como as melhores obras, o seu desígnio não é a perfeição, tal como ela é entendida hoje. É criar um vocabulário orgânico, consciente de fragilidades e qualidades, acreditando no gesto espontâneo. Canções como "VCR", "Crystalised" ou "Basic space" respiram uma tal simplicidade de processos que nos interrogamos como é que "xx" não foi arquitectado mais cedo. Aos 20 anos, esta banda conseguiu definir uma sonoridade particular, contaminada por múltiplas temporalidades, com essa mais-valia de ser música de adesão imediata, capaz de tocar várias gerações com uma facilidade desconcertante.

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