PJ apreende dois quadros antes de leilão em Lisboa por suspeita de falsificação

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Uma das pinturas falsificadas DR

A Polícia Judiciária apreendeu anteontem em Lisboa, numa sala do CCB para onde a leiloeira Sala Branca tinha agendado um leilão de arte portuguesa, dois quadros atribuídos a Álvaro Lapa (1939-2006) e a René Bertholo (1935-2005) por suspeita de se tratar de falsificações.

A Polícia Judiciária apreendeu na segunda-feira em Lisboa, numa sala do CCB para onde a leiloeira Sala Branca tinha agendado um leilão de arte portuguesa, dois quadros atribuídos a Álvaro Lapa (1939-2006) e a René Bertholo (1935-2005) por suspeita de se tratar de falsificações. A operação foi confirmada pelo director da leiloeira, Pedro Mesquita da Cunha, que lamentou “este episódio desagradável”, que, no entanto, não impediu a normal realização do leilão.

O coordenador de investigação criminal da PJ, João Oliveira, não quis fazer qualquer comentário sobre a operação, nem sobre a investigação que agora irá ser feita no encalço dos dois quadros. “Não confirmo nem infirmo”, limitou-se a dizer o responsável da PJ.

A operação foi também confirmada e descrita ao PÚBLICO pelo advogado Delgado Martins, que, em representação tanto da última companheira de René Bertholo, a alemã Helma Voss Hellwig, como do filho mais velho de Álvaro Lapa, Hugo, solicitou a intervenção da PJ. Na base da suspeita das eventuais falsificações esteve a percepção de Hellwig, que viveu com Bertholo 27 anos, de que obras abusivamente atribuídas ao pintor têm circulado impunemente no mercado da arte em Portugal. Delgado Martins diz que algumas dessas obras foram até já documentadas em revistas de leilões e catálogos de exposições.

Foi quando estava no encalço delas que o advogado reparou, no catálogo para o leilão do dia 18 da Sala Branca, na existência de um óleo sobre tela de Bertholo, “s/título” (81,5cmX110cm), assinado e datado de 1999 – e com uma base de licitação de 25 mil euros. Quando foi ver a obra, reparou que ela era “uma réplica da tela ‘Confusões’, do mesmo ano, actualmente na posse de um coleccionador privado em Lisboa”. O quadro, diz Delgado Martins, repete os elementos compositivos desta pintura, mas com uma dimensão inferior.

A obra com a assinatura de Álvaro Lapa – um óleo sobre tela, “s/título” e s/data (78,5cmX118,5cm), com uma base de licitação de 22.500 euros – esteve já referenciada no catálogo de uma exposição da galeria portuense Nasoni, em Março de 2008. Isso mesmo é referido por Pedro Mesquita da Cunha, que considerou essa citação como “um dos crivos” que permitem à leiloeira assegurar a autenticidade das obras com que trabalha.

Contactado pelo PÚBLICO, António Cabecinha, da Nasoni, recusou fazer qualquer comentário a estas “suspeitas”.

O responsável da Sala Branca assegura que é a primeira vez que a leiloeira se confronta com um caso do género. E nota que as obras do leilão de segunda-feira foram publicadas no catálogo “há cerca de um mês, e estiveram em exposição durante três dias”. Daí a surpresa pela intervenção da PJ no próprio dia do leilão, nota Pedro Mesquita da Cunha, que espera agora o desenvolvimento do processo e a clarificação do caso.

René Bertholo e Álvaro Lapa são dois nomes de relevo da arte portuguesa da segunda metade do século XX, com uma cotação crescente no mercado da arte.

Notícia corrigida às 18h12
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