Prémio Mies van der Rohe para a Ópera de Oslo, onde podemos passear pelo telhado

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Há 700 anos que não se construía na Noruega um centro cultural com esta dimensão DR

É um edifício que nasce na água e sobre o qual se pode caminhar. A nova ópera de Oslo, do atelier norueguês Snohetta, quer ser um símbolo da Noruega moderna.

A Ópera de Oslo foi notícia há um ano por uma razão que a ultrapassou completamente: na inauguração, a chanceler alemã, Angela Merkel, apareceu com um enorme decote que surpreendeu todos e que a atirou para as primeiras páginas dos jornais. Agora a Ópera volta a ser notícia por razões que têm tudo a ver com ela, sobretudo com o edifício: o projecto do atelier norueguês Snohetta, recebeu ontem um dos mais prestigiados prémios de arquitectura, o Mies van der Rohe.

Há 700 anos que não se construía na Noruega um centro cultural com esta dimensão. E estamos a falar de uma área do tamanho de quatro estádios de futebol, de um interior com 1100 divisões, e de um dos mais modernos e tecnologicamente avançados palcos de ópera do mundo. O auditório principal tem 1350 lugares, e existe uma segunda sala com capacidade para 400 pessoas, além de uma sala de ensaios com 200 lugares.

Mas o que torna esta ópera excepcional é o seu telhado inclinado, que começa junto à água, na baía de Oslo, e permite que as pessoas subam por ele e passeiem sobre o edifício.

A ambição foi, desde o início, grande. Pretendeu-se criar “um importante símbolo do que a Noruega moderna representa como nação e expressar o papel que a ópera e o ballet devem ter na sociedade”, explica o Snohetta no texto em que apresenta o projecto (os três sócios do atelier, Kjetil Traedal Thorsen, Tarald Lundevall e Craig Dykers, são também os responsáveis pela nova Biblioteca de Alexandria, no Egipto).

O edifício é além disso, sublinha por seu lado o texto do prémio Mies van der Rohe, “o primeiro elemento da transformação da zona da baía de Oslo, com o objectivo de voltar a ligar a cidade à sua frente marítima”. E é “uma paisagem arquitectónica aberta ao público”.

É precisamente esse factor, essa “generosidade” do edifício, que o crítico de arquitectura Jorge Figueira destaca. “Estabelece uma relação muito física com os utilizadores. Convida as pessoas a estarem nele mesmo não estando dentro dele”. Confessa, contudo, que não o considera “uma obra surpreendente”. Sendo “sem dúvida muito qualificada, não é particularmente inovadora”, diz.

Figueira vê na ópera “uma espécie de encontro entre a excelente tradição da arquitectura nórdica, no uso dos materiais, no rigor construtivo, no tema da organicidade das formas, e o desejo muito contemporâneo de criar um ícone”. E vê na forma como esta ideia é trabalhada a influência de elementos da arquitectura modernista brasileira, nomeadamente nessas rampas que “permitem circular em cima do edifício, tornando-o também um circuito exterior”.

No interior os arquitectos usaram sobretudo madeira, invocando a tradição dos construtores de barcos noruegueses. A par disso, pediram a vários artistas (o atelier tem uma colaboração especialmente próxima com o artista dinamarquês Olafur Eliasson, com quem fez em 2007 o pavilhão da Serpentine Gallery, em Londres), para fazerem intervenções — Eliasson, por exemplo, fez um vestiário.

A Ópera de Oslo foi escolhida para o Prémio Mies van der Rohe — que tem um valor de 60 mil euros, e é apoiado pela União Europeia — de entre uma lista de cinco finalistas que incluía o Zenith Music Hall de Estrasburgo (França) do Studio Fuksas, a Universidade Luigi Bocconi de Milão (Itália) dos Grafton Architects, o Centro Multimodal do Tramway de Nice (França) do Atelier Marc Barani, e a Biblioteca, Centro para Seniores e Pátio Interior em Barcelona (Espanha) dos RCR Arquitectes.

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