A poderosa agente literária Carmen Balcells, que representa alguns dos mais importantes escritores de língua espanhola e catalã, afirmou ao jornal chileno La Tercera que está convencida de que o romancista colombiano Gabriel García Márquez, prémio Nobel da Literatura, "nunca mais voltará a escrever".

Na mesma entrevista, Balcells acrescentava que o autor de Cem Anos de Solidão representa 36,2 por cento da facturação da sua empresa, uma percentagem brutal se tivermos em conta a extensa lista de autores que a agência representa, na qual se incluem nomes tão vendáveis como Vargas Llosa ou Isabel Allende.

É claro que as notícias relativas a García Márquez já várias vezes se têm revelado um pouco precipitadas. Há alguns anos correu mesmo na Internet uma sua suposta carta de despedida a leitores e amigos, alegadamente motivada por um não menos suposto cancro linfático. Ao desmentir ser autor da nota, que comoveu multidões de leitores em todo o mundo, o escritor, irritado com o lirismo melado do texto, adiantou que "mais valia ter um cancro do que ter escrito uma carta como aquela".

Após as declarações de Balcells, os jornalistas quiseram ouvir o único biógrafo autorizado de García Márquez, Gerald Martin, que está de acordo com a agente: "Eu também acho que ele não escreverá mais livros, mas isso não me parece lamentável, uma vez que, como escritor, foi seu destino ter uma trajectória literária absolutamente coerente", afirmou o académico, autor da extensa biografia Gabriel García Márquez. Uma Vida, publicada em 2008.

No entanto, Martin acrescenta que o seu biografado tem guardados "alguns livros completos, que ainda não decidiu se vai ou não publicar". Ou seja: Balcells pode ter razão e, ainda assim, aparecer um dia destes um novo livro de García Márquez.

De resto, ainda recentemente dois jornalistas colombianos garantiram que o romancista estava a escrever uma nova obra, alegadamente uma história de amor, e até adiantaram o título: Vemo-nos em Agosto.

E o escritor argentino Tomás Eloy Martínez, amigo de García Márquez, afirmou encarar com reservas as declarações de Carmen Balcells. "Só ele conhece os seus desejos e os seus limites para continuar a escrever", afirmou Martínez, e "tudo o mais são adivinhações".

Balcells tem fama de ser uma agente astuta, que não diz nada por dizer. Ora, não se percebe muito bem o que possa ganhar com este anúncio de que o seu autor mais rentável não voltará a escrever. A menos, claro, que ele volte mesmo a escrever.