Cinco Estados do Árctico reúnem-se para salvar o urso polar

Foto
Os gelos flutuantes são um terreno de caça indispensável para os ursos Greenpeace/Reuters (arquivo)

Os ursos do Pólo Norte não deverão chegar ao final deste século, previu esta semana um relatório da organização WWF. A fim de proteger a espécie do aquecimento global, que a pode levar à extinção, Estados Unidos, Rússia, Canadá, Noruega e Dinamarca/Gronelândia vão reunir-se esta terça-feira em Tromsoe, Norte da Noruega. Para evitar que o urso polar seja apenas uma peça de museu.

Estes Estados, com territórios no Árctico onde vive o urso polar, querem adaptar um acordo de 1973 sobre a conservação desta espécie aos novos desafios climáticos.

“Se não houver gelo flutuante, não haverá ursos polares. É tão simples quanto isso”, resumiu o americano Geoff York, especialista em ursos polares na organização WWF (Fundo Mundial da Natureza). Segundo algumas estimativas, o Árctico poderá ficar sem gelo durante o Verão já a partir de 2020. Ou talvez mais cedo.

Como consequência da subida dos termómetros, dois terços dos 20 a 25 mil ursos polares que hoje vivem em estado selvagem arriscam-se a desaparecer até 2050, estimam os cientistas.

Os gelos flutuantes são um terreno de caça indispensável para os ursos. É aí que caçam as focas que lhes permitirão passar o Inverno. Ao sair de hibernação, cada vez mais ursos são surpreendidos com o recuo prematuro dos gelos e são obrigados a escolher entre ir até aos gelos a nado, percorrendo distâncias demasiado longas para as suas crias, ou permanecer em terra com os seus filhotes e enfrentar uma morte quase certa, devido à falta de alimento.

No sentido inverso, no Outono, as fêmeas grávidas têm que nadar distâncias cada vez maiores para regressar a terra firme, perdendo forças preciosas. Na verdade, os ursos polares dos nossos dias serão 15 por cento mais magros do que há 20 anos.

Os representantes dos cinco Estados reunidos em Tromsoe durante três dias vão pensar novas formas para proteger este mamífero.

“Alguns destes países são também muito importantes na política internacional sobre alterações climáticas”, salienta Rasmus Hansson, secretário-geral da WWF norueguesa, saudando os sinais positivos vindos dos Estados Unidos, desde a eleição de Barack Obama.

De certa maneira, o destino do animal vai ser decidido em Dezembro, durante a conferência de Copenhaga, onde deverá ser negociado um sucessor do Protocolo de Quioto sobre alterações climáticas, que expira em 2012.

Elaborado há quase 40 anos, o acordo de conservação do urso branco visa essencialmente limitar a caça, na altura a principal ameaça mas que ainda existe. Além das quotas acordadas às populações autóctones, o urso continua a ser um alvo para os turistas de luxo no Canadá, onde é autorizada a caça desportiva, e para os caçadores furtivos na Rússia.

Os cinco signatários reuniram-se pela última vez em Oslo, em 1981, e decidiram que o acordo seria válido por tempo indefinido.

Entretanto surgiram outras ameaças: as actividades petrolíferas, mineiras e militares, o transporte marítimo e o aumento do turismo no Árctico acrescentam pressões que fragilizam a espécie. O seu sistema imunitário e as suas capacidades de reprodução estão a diminuir devido a substâncias tóxicas como os PCB, que são arrastados para aquelas regiões pelas correntes atmosféricas e marinhas.

O cenário é sombrio mas, para a WWF, ainda vale a pena agir. “Sabemos que os ursos polares sobreviveram a períodos de aquecimento no passado. Não sabemos como, mas se lhes dermos espaço suficiente, talvez se adaptem o melhor que for possível”, considerou Geoff York.

Sugerir correcção
Comentar