Lixo espacial: porque o temos, como nos livramos dele?

O mais velhinho pedaço de lixo espacial que permanece em órbita já fez mais de 50 anos: foi o quarto satélite artificial a chegar ao espaço, uma bola de alumínio com múltiplas antenas e cerca de quilo e meio, lançada pelos Estados Unidos em 1958. Chama-se Vanguard 1 e já há muito que se perdeu a comunicação com ele. Ao longo das últimas cinco décadas, acumulou centenas de milhares de companheiros, uma nuvem colossal de detritos que começa a causar sérias preocupações às agências espaciais e às empresas que lançam satélites comerciais.

O que é o lixo espacial?

O melhor é entender os detritos espaciais como qualquer objecto de produção humana que já não tem utilização: esta definição inclui módulos de lançamento e de propulsão no espaço de foguetões, fragmentos oriundos de explosões e satélites não operacionais.


Outros objectos vagueiam igualmente pelo espaço, como câmaras, luvas, chaves de fendas e outros utensílios e até, pelo menos, uma mala de ferramentas e uma escova de dentes, perdidos pelos astronautas.


Centenas de milhares de fragmentos são tão ínfimos, mas tão numerosos, que formam imensas nuvens de poeiras, com elevado poder abrasivo e de erosão.


Quão grave é o problema?

Qualquer objecto que pese mais do que umas dezenas de gramas e se desloque a mais de sete quilómetros por segundo pode facilmente destruir um satélite e tornar-se numa ameaça série para as missões espaciais. A NASA considera até que o volume de lixo espacial atingiu já um nível de tal gravidade que constitui hoje a maior ameaça aos vaivéns em voo – superior aos perigos da descolagem e da reentrada na atmosfera, no regresso à Terra.


Actualmente, os riscos de colisão entre detritos são ainda muito baixos – mas tanto as agências espaciais como as empresas privadas que operam no espaço manifestam cada vez maior apreensão de que o contínuo acumular de detritos venha a tornar alguns níveis da órbita terrestre demasiado perigosos para serem utilizados.


Os detritos espaciais constituem uma ameaça para a rede global de comunicações e a navegação no espaço dos satélites de observação da Terra na chamada “órbita baixa” (LEO, da superfície terrestre até 2000 quilómetros de altitude). Mas também comportam riscos para a Estação Espacial Internacional, que dispõe, de resto, de uma armadura de painéis de protecção ao impacto.


O que está a ser feito para reduzir esses riscos?

Os esforços estão maioritariamente concentrados em manter sob apertada vigilância o colossal mar de detritos em órbita – 18 mil pedaços mapeados pela NASA no início deste ano, contabilizando apenas massas superiores a 10 centímetros de diâmetro e apenas na “órbita baixa” da Terra. Dez mil deles são considerados “potencialmente letais”.


Já a Agência Espacial Europeia, que contabilizou tudo com mais de um centímetro de diâmetro, mostra a existência de mais de 600 mil objectos em órbita no modelo referencial de meteoros e lixo espacial MASTER, de 2005.


A vigilância sobre estes objectos permite identificar situações em que seja necessário efectuar manobras de evasão: como aconteceu em 1991, quando o vaivém teve de queimar combustível ao longo de sete segundos para se desviar de detritos deixados pelo satélite militar russo Cosmos-995.


O que quer fazer a União Europeia?

Desde Dezembro, a União Europeia está a preparar um código de conduta para as actividades civis e militares no espaço – com o propósito de incidir sobre todo o trabalho científico, comercial e de segurança desenvolvido em órbita e emitir regras de notificação que garantam a segurança e transparências das operações e missões espaciais.


Ontem mesmo, horas após anunciada a colisão do satélite norte-americano e russo em órbita sobre o Árctico, a presidência checa da UE (em tutela durante o primeiro semestre de 2009) anunciou que aquela proposta pode constituir a base de um acordo a ser alcançado no âmbito da Conferência de Desarmamento, fórum de discussão da comunidade internacional criado em 1979 pelas Nações Unidas e em que participam 65 países, incluindo os Estados Unidos, Rússia, China, Índia, Paquistão e Israel.


E é mesmo possível limpar o espaço?

Todos os detritos acabarão por cair na atmosfera terrestre, mas alguns permanecerão no espaço décadas, devido a ritmos de queda orbital muito longos.


Peritos e agências espaciais ponderam diversas hipóteses de limpeza: desde o uso de “vassouras” de laser para forçar os detritos a entrarem em rotas orbitais de queda mais acelerada até a possibilidade de juntar centenas de pedaços em massas de maior volume, e acumulá-los numa espécie de lixeiras espaciais que podem mesmo vir a ter utilidade em futuras missões espaciais.


Mas a prioridade sobre a mesa – e para a maior parte dos grupos internacionais – é a de pôr em marcha medidas de prevenção para mitigar o projectado aumento de detritos no espaço, a par de planos para diminuir aqueles que já se encontram em órbita. Uma das propostas cruciais em discussão, mas sem avanços significativos, refere-se às formas de retirar de órbita satélites quando estes chegarem ao fim das suas vidas operacionais.


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