Cimeira UE-África: Robert Mugabe denuncia arrogância europeia

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Mugabe lembrou que os africanos lutaram pelos direitos humanos quando estavam sujeitos à opressão colonial Nacho Doce/Reuters

O Presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe, reservou o último dia da cimeira Europa-África para responder às críticas de que foi alvo durante a reunião, denunciando a “arrogância” da UE, em particular de quatro países, em relação à situação dos direitos humanos no país.

“Ontem, ouvimos quatro países – Alemanha, Suécia, Dinamarca e Holanda – criticar o Zimbabwe pelo desrespeito dos direitos humanos. O bando dos quatro ‘pró-Gordon’ pensa que conhece melhor o Zimbabwe [do que os outros africanos] e esse é o tipo de arrogância, de complexo de superioridade que nós combatemos”, afirmou Mugabe, num discurso a que os jornalistas tiveram acesso após o final da cimeira.

O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, recusou participar na cimeira UE-África, a segunda do género realizada em sete anos, depois de confirmada do Presidente do Zimbabwe, alvo de sanções por parte da UE desde 2002, na sequência da sua polémica reeleição em 2002 e das políticas económicas adoptadas nos últimos anos.

“Por que é que o primeiro-ministro britânico não veio? Porque ele tem aqui os seus porta-vozes”, afirmou irritado o histórico dirigente zimbabweano, em resposta às acusações que ouviu ontem de vários dirigentes europeus, em particular da chanceler alemã, Angela Merkel, para quem a situação naquele país “mancha a imagem da nova África”.

Mugabe não perdeu a oportunidade para lembrar que “os africanos combateram para conquistar os direitos humanos quando estavam sujeitos à opressão” e que “não houve democracia no Zimbabwe durante os mais de cem anos” que durou a colonização britânica.

Aos 83 anos, o Presidente do Zimbabwe já anunciou a intenção de se recandidatar a um sexto mandato, nas eleições do próximo ano, mas diz estar consciente que “a Europa não aceitará os resultados de eleições regulares porque não gosta do vencedor”.

“O Reino Unido e os EUA querem mudar o nosso Governo, pensam que têm esse direito, mas nós dizemos ‘não’. Temos o direito de escolher o nosso futuro, pois o Zimbabwe bão será nunca mais uma colónia”, concluiu.

Antes da intervenção de Mugabe, o alto representante para a política externa da UE, Javier Solana, veio em defesa de Angela Merkel, acusada ontem por vários dirigentes africanos de não estar a par dos esforços desenvolvidos pela União Africana para solucionar a crise no Zimbabwe.

O chefe da diplomacia dos 27 sublinhou que a posição da Alemanha é a posição da UE, para quem os graves problemas económicos e políticos que atravessa o Zimbabwe “são um resultado da crise de governação” que o país atravessa.

Solana lembrou ainda que a UE não impôs qualquer sanção económica ao Zimbabwe, mas apenas sanções políticas contra os altos dirigentes do regime, pelo que não pode ter responsabilidade na grave recessão que o país atravessa. Este ano, a inflação no Zimbabwe atingiu os oito mil por cento e taxa de desemprego ronda os 70 por cento, num país onde os bens alimentares são cada vez mais escassos, em grande parte devido ao abandono a que foram votadas muitas explorações agrícolas expropriadas aos latifundiários.

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