Semana da Amamentação arranca hoje

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O cumprimento pelos hospitais públicos e privados das recomendações sobre o aleitamento da Organização Mundial de Saúde continua longe de ser prática corrente Adriano Miranda/PÚBLICO

Sofia (nome fictício) decidiu há muito tempo que não amamentaria os filhos. "Sei que é a natureza, mas acho a amamentação um acto animalesco, além de ser doloroso", diz a gestora de 31 anos, que acabou de ser mãe pela primeira vez. O curso de preparação para o parto mostrou-lhe "a importância do leite materno para os bebés" e acabou por se convencer a dar de mamar à filha recém-nascida nos primeiros 15 dias". Mas não irá além deste prazo.

As mulheres que decidem não amamentar ou desistem de o fazer após os primeiros dias de vida dos filhos baseiam-se muitas vezes em "mitos que é preciso desmistificar", defende Lúcia Leite, responsável na Ordem dos Enfermeiros pelas comemorações da semana que hoje arranca. "A ideia de que o processo é doloroso está errada", argumenta. "Há problemas com o peito que se previnem durante a gravidez ou se corrigem, porque normalmente resultam de uma má pega do bebé na mama."

A estes "mitos" junta-se a ideia de "que amamentar ou dar leite artificial é o mesmo". Nada mais errado, provam os estudos. O leite natural contém anticorpos e funciona como uma "verdadeira primeira vacina", protegendo o bebé das infecções e outras doenças (ver caixa). "É preciso ajudar as mães a perceber que nenhum fórmula consegue reproduzir os benefícios do aleitamento materno." Mesmo sabendo que o leite artificial sacia o bebé durante mais tempo e provoca maior aumento de peso, "não é o melhor alimento".

Amamentar na primeira hora de vida pode fazer toda a diferença, salvando a vida a milhões de bebés, defendem os especialistas. "E não é apenas no Terceiro Mundo. A amamentação é fundamental para a saúde daquelas crianças no futuro", explica a enfermeira Adelaide Órfão, responsável na Direcção-Geral da Saúde (DGS) pela organização da semana, que tem como lema mundial o aleitamento materno nos primeiros 60 minutos de vida.

Até domingo, a DGS organiza um conjunto de acções pelo país para sensibilizar as famílias e os profissionais de saúde para a importância do aleitamento precoce. "É preciso explicá-lo às mães, aos pais e até aos avós", diz a enfermeira Adelaide Órfão, responsável da DGS por esta área. "Temos de envolver toda a família neste alerta, para que apoiem as mães, mas também possam exigir mais dos hospitais e maternidades."

O cumprimento pelos hospitais públicos e privados das recomendações sobre o aleitamento da Organização Mundial de Saúde continua longe de ser prática corrente. "As boas práticas têm de ser a regra, não a excepção. Há muitos hospitais onde a amamentação não é incentivada ou acarinhada, porque exige mais profissionais e organização", alerta Lúcia Leite.

O apoio de profissionais nos centros de saúde é essencial quando as mães vão para casa e os problemas da amamentação se agudizam. "É fundamental termos profissionais com formação nos centros de saúde para dar este apoio", defende Adelaide Órfão. Esta semana serão abertos Cantinhos de Amamentação em 16 centros de saúde do Algarve e outros quatro na região de Matosinhos, para "aconselhamento e apoio domiciliário às mães". Para sábado está prevista uma onda de amamentação simultânea em vários pontos do país.

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