Vídeo de Paulo Ribeiro é o primeiro de uma colecção inédita dedicada à dança portuguesa

Na segunda-feira, às 18h30, na Fnac do Chiado, assistia-se a algo completamente inédito, o lançamento da colecção "Dança Contemporânea Portuguesa", o primeiro registo de dança portuguesa acessível ao público.

O produtor Paulo Forte, da Latina Europa, e o coreógrafo Paulo Ribeiro, lançaram a obra "Le Cygne Renversé", de 1992, juntamente com um manifesto que enquadra a problemática da divulgação da criação contemporânea em Portugal. O manifesto relembra o contrato, nunca cumprido, estabelecido entre o Estado e a RTP, como concessionária do serviço público de televisão, que estipula um mínimo de 26 horas por ano de produção e transmissão regular de obras dramáticas, dramático-musicais e coreográficas, criadas para televisão ou representadas por companhias independentes.

"No nosso país, infelizmente, os contratos não são cumpridos, não se atribuem responsabilidades a ninguém, tanto para o bem como para o mal. Acho que se devia premiar o bem e responsabilizar o mal.", disse Paulo Forte no início da intervenção, acrescentando que esse contrato está caducado desde Dezembro de 1999.

O vídeo surge no sentido da "preservação da memória" e, segundo Paulo Forte, "a dança em Portugal tem sido nestas últimas décadas um dos nossos maiores embaixadores da cultura e, por ainda estarmos vivos, chamamos a esta colecção contemporânea. É fruto de um trabalho de 13 anos que eu e a Latina Europa temos tido com alguns coreógrafos".

Para Paulo Ribeiro o mais problemático é "constatar como, depois de dez anos, os criadores estão noutro sítio mas as dificuldades na dança continuam. É uma batalha sem fim."

O segundo lançamento em vídeo será o "Cio Azul", de Clara Andermatt, e à espera de autorização está "Ao Vivo", também de Paulo Ribeiro, num trabalho com os músicos Maria João e Mário Laginha. A escolha destes coreógrafos reside no facto de terem já realizado diversos trabalhos com a Latina Europa - "talvez porque haja uma concordância de linguagens" - e porque "têm uma certa craveira internacional", explica Paulo Forte. Em relação ao futuro respondeu, "estamos a tentar juntar os valores da geração da Maratona de Dança, grande evento de dança organizado há dez anos atrás. Temos peças que penso que vamos conseguir editar".

Segundo Paulo Ribeiro, o mais importante em "Le Cygne Renversé", que surgiu depois de uma encomenda do Centro Coreográfico Nacional de Nevers, em França, é ver como a música e a coreografia encaixam. "A aposta era interessante: eu criava para a companhia deles mas sem conhecer a música. Falei com o compositor, Mathias Ruegg, e a Suisse Art Orchestra, e disse-lhe os climas que gostaria de ter. Só nos encontrámos no dia da estreia. Agora quando olhamos para este vídeo temos a impressão que a música foi feita para a coreografia. Isto foi realmente um encontro muito feliz."

As filmagens desta peça de meia de hora foram feitas na estreia da peça em Portugal, no Acarte, em Lisboa.

Quanto ao próximo vídeo de Paulo Ribeiro, "Ao Vivo", é já um trabalho de 1999, "o interessante é fazer este 'link' entre o 'Le Cygne Renversé' e o 'Ao Vivo'. Apesar de eu conhecer e ter trabalhado sobre a música da Maria João e do Mário, também só nos juntámos na antevéspera da estreia."

Quando "Ao Vivo" for editado, o produtor Paulo Forte pensa em criar uma edição em DVD reunindo estas duas peças do trabalho de Paulo Ribeiro, que apesar de terem dez anos de intervalo, são ambas exercícios coreográficos criados para serem apresentados com música ao vivo.

Os custos de produção deste primeiro vídeo, segundo Paulo Forte, não chegaram a três mil contos: "Fizemos um acordo e no fim, em função do investimento, rachámos as receitas. É muito importante este espírito de união para financiar as coisas."

A estrutura de distribuição do vídeo vai passar, para já, pelo Teatro Viriato em Viseu e pelas cinco lojas da Fnac em Portugal. A 13,72 euros, "Le Cygne Renversé", de Paulo Ribeiro, com interpretações de Mónica Lapa, Amélia Bentes, Paulo Ribeiro, Milton de Lima e Patrick Harlay, é o primeiro vídeo de dança contemporânea portuguesa à venda ao público.

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