Muitos lares não diagnosticam demências que afectam idosos

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A maioria dos problemas da terceira idade exige uma intervenção clínica alargada Paulo Pimenta/PÚBLICO (arquivo)

Pelo menos trinta por cento dos idosos que estão internados em lares sofrem de demências, como Parkinson ou Alzheimer, que são marginalizadas ou ficam por diagnosticar porque não existe apoio psiquiátrico.

Pedro Carvalho, psiquiatra do Hospital de Magalhães Lemos, no Porto, alertou ontem - no Encontro Europeu de Gerontopsiquiatria, que reúne em Lisboa 450 especialistas nacionais e estrangeiros - para a ausência de diagnóstico e apoio psiquiátrico em muitos lares. "Há muito poucos psiquiatras com competências para a Psicogeriatria. São cerca de duas dezenas a trabalhar com idosos em todo o território nacional", afirmou o especialista.

O psiquiatra, que dá apoio a oito lares no Norte do país, diz que nem todas as instituições têm necessidade de um psiquiatra a tempo inteiro, mas defende a necessidade de outras soluções, que podem passar por protocolos com especialistas que assegurem o atendimento e o diagnóstico.

As pessoas com demência enfrentam outros problemas. "Há muitos lares que recusam a admissão de idosos com quadros de demência, já que estas doenças são de progressão lenta e muito exigentes ao nível de pessoal", alerta. "É preciso arranjar-lhes respostas sociais adequadas."

Às demências junta-se a depressão, o problema psiquiátrico mais comum na população envelhecida. "Há muitos idosos deprimidos. Até a ida para o lar pode gerar um quadro depressivo. Estas pessoas precisam de ser diagnosticadas e tratadas", defendeu Pedro Carvalho.

Certo é que a maioria dos problemas da terceira idade exige uma intervenção clínica alargada - quer hospitalar quer ao nível dos centros de saúde -, envolvendo outras respostas, que passam pela reabilitação e por uma intervenção social. Para mais quando se sabe que, em 2050, Portugal será o país da UE com um maior peso de população idosa: 32 por cento da população terá 65 ou mais anos.

"Nesta área, a intervenção não pode ser apenas uma consulta isolada num hospital", defende o presidente da Associação Portuguesa de Gerontopsiquiatria (APG), Horácio Firmino, o organizador do encontro, que amanhã termina em Lisboa. "Não se pode pensar numa política para o idoso sem envolver os profissionais de saúde, sobretudo ao nível dos cuidados primários, a família, as instituições de solidariedade social e a comunidade".

A Associação irá lançar hoje o livro Gerontopsiquiatria, o primeiro em Portugal dedicado aos problemas psiquiátricos do idoso e realizado com contributos de psiquiatras de todo o país. O livro fala dos problemas mais comuns à população envelhecida, que vão das perturbações do sono ao suicídio, sobretudo associado à depressão, aos problemas de alcoolismo e a doenças incapacitantes.

Mas alerta também para a forma de controlar o envelhecimento através uma atitude positiva e preventiva, como cultivar a independência, fazer exercício físico regular e uma boa alimentação.

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