Durão Barroso critica Zapatero pela retirada das tropas espanholas do Iraque

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Durão diz que a posição de Zapatero não trouxe qualquer segurança a Espanha Inácio Rosa/Lusa

O primeiro-ministro, Durão Barroso, criticou o seu homólogo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, por admitir retirar as suas tropas do Iraque, considerando que a decisão de Madrid não foi benéfica para a segurança do país. As declarações do chefe de Governo português não foram bem recebidas pela oposição e pelo comissário europeu para a Política Externa, Javier Solana, que disse "discordar totalmente" da posição de Lisboa.

Ontem à noite, no Porto, Durão Barroso comentou a decisão de Zapatero de retirar as tropas espanholas do território iraquiano se até 30 de Junho (data prevista para a transferência de poder no Iraque) a ONU não assumir o comando da situação no país, sustentando que essa posição "não trouxe qualquer segurança àquele país, antes pelo contrário", e que "não se compra segurança com posições dúbias".

"O novo Governo espanhol anunciou que ia retirar as tropas do Iraque e imediatamente disse que ia aumentar a presença no Afeganistão. Sentiu necessidade de o dizer, reparem nisso. Imediatamente a Al Qaeda reforçou as ameaças contra Espanha. E neste momento a situação naquele país não é de forma alguma mais segura do que em Portugal, bem pelo contrário", argumentou o primeiro-ministro.

Defendendo que "há muito mais risco em Espanha do que em Portugal, apesar de o novo Governo espanhol ter dito o que disse", Durão considera que "não se compra segurança com a tentativa de ceder a qualquer forma de terrorismo" e que "a melhor notícia que se podia dar ao terrorismo global era se porventura amanhã os países ocidentais comprometidos no Iraque resolvessem desertar".

"O caminho das áreas cinzentas da neutralidade não consegue mais segurança do que isto", continuou, garantindo que a presença portuguesa no Iraque, através da GNR, é para continuar. "Qual é a alternativa? Se todos saíssem, seria uma irresponsabilidade sem nome, seria dizer aos terroristas que eles venceram. Desertar seria uma boa notícia para eles", concluiu.

Durão alvo de críticas da UE

À entrada para a reunião informal dos chefes da diplomacia da União Europeia, em Tullamore, Irlanda, o alto representante da UE para a Política Externa, Javier Solana, manifestou a sua discordância em relação às críticas de Durão Barroso: "Eu respeito muito o primeiro-ministro [português], mas estou totalmente em desacordo", afirmou.

Em Lisboa, a discórdia repetiu-se com o PS, PCP e Bloco de Esquerda a condenarem a posição assumida pelo primeiro-ministro.

Para o secretário-geral do PCP, Carlos Carvalhas, ao considerar "irresponsável" a decisão do chefe do Governo espanhol, Durão está a ser "o eco" do Presidente norte-americano, George W. Bush, na Península Ibérica. "Irresponsável é a posição do Governo português, que atrelou o país a uma guerra ilegítima, ilegal e a uma ocupação que está a levar o caos ao Iraque, onde se assiste a uma espiral de violência", contrapôs o líder dos comunistas.

"Rodríguez Zapatero disse que queria tirar a Espanha da fotografia dos Açores. É claro que Durão Barroso não tem esse problema, pois não ficou na fotografia, mas era bom que Portugal lá não ficasse", reagiu ainda Carlos Carvalhas.

Pela parte do PS, o deputado Alberto Costa acusou Durão Barroso de ter assumido uma posição "indelicada" e "carente de sentido de Estado" face ao novo Governo espanhol, revelando "um nítido nervosismo". "Esse nervosismo apenas se explica por Durão Barroso se sentir agora o único aliado ibérico de George W. Bush e por causa do seu excessivo envolvimento na última campanha eleitoral espanhol, na qual perdeu com a derrota dos conservadores do Partido Popular", apontou o ex-ministro socialista.

Na mesmo linha do PCP e do PS, o dirigente do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, acusou o chefe de Governo de "estar desorientado", pretendendo fazer "oposição ao primeiro-ministro espanhol e à maioria dos portugueses, que rejeita a guerra contra o Iraque e o nosso envolvimento nessa ocupação ilegal".

"Com as declarações que fez no Porto, também se demonstra que Durão Barroso tem mau perder, não aceitando a derrota do seu tutor político [o ex-chefe do Governo espanhol] José Maria Aznar", considerou Francisco Louçã.

"Relações entre Portugal e Espanha não vão ser afectadas"

Para o ministro de Estado e da Defesa, Paulo Portas, as críticas de Durão Barroso não vão afectar as relações entre Portugal e Espanha. "Em matéria de relações entre Portugal e Espanha, ainda ontem assisti a um contrato para produção de material militar para o país vizinho, no valor de 40 milhões de euros, ser ganho pela OGMA", exemplificou Portas.

"As boas relações entre os países vêem-se por factos, na prática e no concreto", argumentou ainda, rejeitando que o relacionamento entre Portugal e Espanha fique prejudicado pelas divergências entre os dois países quanto ao conflito no Iraque e pelas afirmações do primeiro-ministro português.

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