Concorde retira-se hoje dos céus

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O Concorde tornou-se um objecto de culto e tudo o que lhe disser respeito pode interessar aos fãs EPA

O capacete utilizado por um piloto britânico num voo experimental, pedaços de rodas e asas, instrumentos do "cockpit"... O Concorde, primeiro e único avião supersónico comercial, tornou-se um objecto de culto. E tudo o que lhe disser respeito pode interessar aos fãs. Por isso há leilões diversos a ser preparados e coleccionadores dispostos a lutar pelas peças mais especiais. É que o Concorde vai retirar-se definitivamente dos céus. Hoje, transportará passageiros pela última vez.

No aeroporto londrino de Heathrow aterrarão três dos sete aparelhos Concorde que fazem parte da frota da British Airways (BA). Um chegará de Nova Iorque, outro de Edimburgo. Um terceiro sobrevoará o Atlântico antes de se juntar aos outros dois para as celebrações, informa o "site" da companhia aérea. A polícia prevê que muita gente vá ao aeroporto assistir à última aterragem, gerando grande confusão. A actriz Joan Collins é uma das convidadas da BA a voar uma última vez.

Símbolo de luxo e sofisticação, há quem lhe chame "o táxi transatlântico dos ricos e dos famosos". É que, ao longo de 27 anos, este aparelho - que, de cada vez que levanta voo, faz tremer as casas de alguns bairros a Oeste de Londres - recebeu com champanhe membros da monarquia, ministros, estrelas de cinema e da pop. Entre os "habitués" estavam Sting, Elton John, Paul McCartney e a família real britânica. "Sentirei muito a sua falta", confessou o cantor Luciano Pavarotti, citado pela Reuters.

O principio do fim aconteceu em Abril, quando a Air France e a BA, as duas companhias com aviões Concorde, anunciaram que ele deixaria de trabalhar. Chegaram à conclusão que começava a ser impossível suportar os custos.

Leilões em preparação

Se o aparelho já era um ícone, este anúncio fez aumentar ainda mais o interesse das pessoas. A BA tem sido inundada com pedidos de coisas relacionadas com o Concorde. "Neste momento estamos concentrados nos últimos voos, mas depois preparemos um leilão, lá para 2004", diz um porta-voz da companhia, citado pela BBC "on line".

A Air France também já anunciou que vai vender algumas recordações na prestigiada casa de leilões Christie, em Paris, a 15 de Novembro. Mais de 1500 peças estarão disponíveis, desde cobertores, catálogos "duty-free", embalagens de sal, pimenta e manteiga com o logótipo do Concorde, até motores Olympus 593, construídos pela Rolls Royce - os tais que permitiam que o Oceano Atlântico pudesse ser atravessado a cerca de duas vezes a velocidade do som.

Outra supervenda está a ser preparada por uma empresa chamada Concorde Collectables (têm um site, o www.concordecollectables.com, dedicado à compra de tudo quanto é "souvenir" relacionado com aquele aparelho). O fato e o capacete usado a 9 de Abril de 1969 pelo piloto Brian Trubshaw, durante um voo de 22 minutos destinado a testar um protótipo do Concorde, são alguns dos atractivos deste leilão. Mas há também uma caixa negra original, rodas, um motor de madeira construído especialmente para ser utilizado em testes de aerodinâmica...

As licitações deverão ser animadas, acreditam os promotores dos leilões. Afinal, este avião já fez história por várias razões. Pelos feitos a que esteve associado, por exemplo, como a ligação, em 1996, de Nova Iorque-Londres em duas horas, 52 minutos e 59 segundos, ou a volta ao mundo, em 1988, em 29 horas e 59 minutos. E pelas memórias contadas por quem nele viajou. Como aquelas de Phil Collins que, algures em 1985, deu um concerto em Londres, tendo apanhado logo de seguida o Concorde; horas depois estava a actuar em Filadélfia.

Por tudo isto, o milionário Richard Branson, patrão da companhia aérea Virgin Atlantic, não se conforma. "A ideia de que nunca mais voará parece absolutamente errada. O Concorde deveria continuar a voar nos próximos 30, 40, 50 anos", declarou Branson, que se ofereceu para comprar à rival British os aparelhos que agora vão reformar-se. A companhia britânica respondeu dizendo que o Concorde "não está à venda". E que o seu destino são os museus.

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