Voltemos a olhar para o Mediterrâneo

Embora tenha andado ofuscado por outros assuntos, o êxodo de refugiados não parou, longe disso.

Na segunda-feira, cerca de 6500 pessoas, número impressionante, foram resgatadas no Mediterrâneo. É uma boa notícia, a do salvamento, mas traz consigo uma outra notícia, bem mais inquietante: o êxodo de refugiados que se fazem ao mar rumo à Europa não parou, longe disso. Em fuga do cada vez mais incontrolável caos líbio ou da ditadura reinante há mais de duas décadas na Eriteia, homens, mulheres e crianças arriscam a vida em busca de algo que não têm qualquer garantia em encontrar. Muitos morrem. Aliás, os números apontam para um total de 6600 mortos entre 2015 e o primeiro semestre de 2016, tantos quanto os agora salvos num único dia. Porque as patrulhas estão mais alerta, porque a guarda costeira italiana continua a fazer o seu serviço humanitário de salvamento, porque demasiadas mortes obrigaram a concentrar esforços em salvamentos rápidos. O problema é que, mantendo-se (como se mantêm) irresolúveis na raiz os problemas que alimentam este êxodo, ele tenderá a aumentar. E contra tudo: as várias relutâncias europeias; a falência das soluções negociadas à escala internacional; a incapacidade de receber, de forma digna, os muitos milhares que à Europa vão chegando; a instabilidade do acordo assinado entre a União Europeia e a Turquia, sobretudo depois da tentativa de golpe de Estado em Ancara; e, por fim, as condições da travessia, que segundo a Organização Internacional para as Migrações, serão cada vez mais perigosas. Como sair disto? A Europa, que internamente não se entende sobre o tema, tentou tudo, desde aliciar países africanos com “bónus” para garantirem um estancamento das saídas, até ao acordo com Turquia com igual objectivo. Mas de pouco lhe valeu. Grécia e Itália continuam pressionadas com vagas migratórias e os refugiados continuam sem qualquer garantia de uma vida humanamente decente que lhes compense os enormes riscos corridos. Urge, mais uma vez, procurar soluções.

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