Venezuela: Maduro garante que vai cumprir, Merkel está preocupada

Nicolás Maduro diz esperar “boas notícias” nos próximos meses com a entrada de receitas.

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Reuters/IVAN ALVARADO

O Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou na sexta-feira que vai cumprir com o pagamento dos seus compromissos internacionais, apesar da crise no país, afectado pelos baixos preços do petróleo, a sua principal fonte de receita pública.

“No ano passado, sob as piores circunstâncias, em que não entrava nem um dólar num país, pagámos pontualmente todos os nossos compromissos e tenho garantidos todos os recursos para pagar compromissos de 2017”, disse Nicolás Maduro, indicando ter inclusive recursos para pagar as obrigações do próximo ano, durante um encontro, em Caracas, com representantes do sector financeiro privado e público, em Caracas.

A Venezuela encontra-se mergulhada numa grave crise política, económica e social, a braços com falta de alimentos e medicamentos, bem como com uma inflação galopante que, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), deve atingir 720% no acumulado de 2017, com a sua economia fortemente penalizada pela queda dos preços do petróleo, principal fonte de receita pública.

Durante uma visita ao México, a chanceler alemã, por seu lado, disse estar “muito preocupada” com a situação na Venezuela. “A situação é realmente muito difícil [para os venezuelanos] e a solução não é fácil. Estamos todos muito preocupados”.

Nicolás Maduro diz esperar “boas notícias” nos próximos meses com a entrada de receitas que irão permitir a Caracas ampliar o fluxo de caixa, donde foram retirados “64.000 milhões de dólares nos últimos 24 meses” em dívida externa.

O chefe de Estado venezuelano congratulou-se ainda com o “êxito” do arranque do sistema de leilões criado pelo Governo para a gestão das divisas, sob seu monopólio há mais de uma década, aproveitando para pedir aos empresários para que invistam no sistema posto em marcha há duas semanas.

Na Argentina, primeira escala de uma breve visita pela América Latina, a chanceler alemã tinha apelado aos países da região para não desistirem de envidar esforços com vista a alcançar-se “uma solução pacífica” para a crise que a Venezuela atravessa.

“Muitas pessoas estão a sofrer por causa da desastrosa situação de escassez num país com muitos recursos”, enfatizou, durante uma palestra com jovens estudantes e cientistas, lamentando ainda as “dezenas” de mortes registadas nos protestos que duram há dois meses.

As declarações não agradaram à ministra dos Negócios Estrangeiros da Venezuela, Delcy Rodríguez, que rejeitou, através da rede social Twitter, os comentários de “ingerência”, por “promoverem a violência opositora”. E desafiou a chanceler alemã a “informar-se sobre o modelo inclusivo da revolução bolivariana”.

A Venezuela encontra-se mergulhada numa grave crise política que opõe o Presidente do país, Nicolás Maduro, ao parlamento, dominado pela oposição.

Os protestos intensificaram-se no princípio de Abril, com a oposição a convocar manifestações para exigir a destituição de magistrados do Supremo Tribunal devido à sua decisão de assumir as funções do parlamento, bem como eleições antecipadas e a libertação de presos políticos e do fim da repressão.

As manifestações, das quais muitas resvalaram em violentos confrontos, agravaram-se com o anúncio, no início de Maio, do arranque do processo de criação de uma Assembleia Constituinte para reformar a Constituição, como a única forma de garantir a paz, numa decisão vista pela oposição como um golpe de Estado e uma forma de Maduro conseguir perpetuar-se no poder.

Segundo dados divulgados recentemente pelo ministro da Comunicação e Informação da Venezuela, Ernesto Viegas, pelo menos 82 pessoas morreram desde Abril. No entanto, segundo o Ministério Público, o número de vítimas mortais é de 67.

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela informou, na quarta-feira, que foi aprovada a realização da eleição da Assembleia Constituinte no próximo dia 30 de Julho e a proposta de submeter a referendo o texto redigido pelo novo órgão.

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