Valls, o ambicioso que quer modernizar a esquerda

Conhecido por quebrar tabus à esquerda – em 2007, queria já alterar o nome do partido “socialista”, que considera ultrapassado – Valls, de 54 anos, moderou recentemente o discurso para aumentar a sua base eleitoral.

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Valls, de 54 anos, nasceu em Barcelona Nicolas Tucat/AFP

O primeiro-ministro, Manuel Valls, tenta há anos impor uma mudança à esquerda, mas a sua personalidade autoritária, o seu discurso pró-empresas e a sua defesa de uma laicidade rigorosa afastam uma parte do seu campo político.

Nascido espanhol e naturalizado francês aos 20 anos, este adepto do clube de futebol da sua Barcelona prepara-se há várias semanas para entrar na arena presidencial. E o caminho ficou aberto com a renúncia do Presidente François Hollande.

Conhecido por quebrar tabus à esquerda – em 2007, queria já alterar o nome do partido “socialista”, que considera ultrapassado – Valls, de 54 anos, moderou recentemente o discurso para aumentar a sua base eleitoral.

O homem que descrevia “duas esquerdas irreconciliáveis”, lançando um “amo os negócios” perante o patronato ou ainda defendendo a proibição do burqini pelos presidentes de câmara da direita, apela agora à esquerda para se “unir” antes das presidenciais de 2017.

Se decidir avançar, tem ainda de ser eleito nas primárias do Partido Socialista, previstas para 22 e 29 de Janeiro. Há cinco anos, nas primeiras primárias abertas da esquerda, o seu posicionamento à direita no PS não convenceu e foi derrotado com 5,63% dos votos na primeira volta.

Este filho de mãe italiana suíça e de pai catalão foi eleito pela primeira vez por Evry, município popular a sul de Paris, aos 23 anos, e demonstrava já as suas ambições. Dizia não querer observar “o camarim presidencial a partir da orquestra na qual esperam que eu me mantenha à espera da minha vez”. Em 2001, foi eleito presidente da câmara de Evry. 

Entretanto, ganhou experiência e estatuto de homem de Estado. Mas o facto de ter recorrido várias vezes a uma arma constitucional para impor reformas, apesar da oposição no Parlamento, valeu-lhe grandes inimigos dentro do seu partido.

Em 2012, foi director de comunicação da candidatura de Hollande, o que lhe valeu a pasta de ministro do Interior. Aqui, reforçou o seu estilo marcial e a imagem de mão pesada, ganhando popularidade – por vezes mais à direita do que à esquerda.

A sua hiperactividade, a sua comunicação muito centrada e as suas ambições valeram-lhe a comparação com o antigo Presidente Nicolas Sarkozy, o que o irritou. Os seus olhos azuis metálicos, as suas réplicas secas e o seu rosto frequentemente fechado dão-lhe uma imagem de homem crispado, embora no início da carreira treinasse um ar mais sorridente. A sua autoridade abriu-lhe as portas de Matignon e da presidência do Governo, substituindo, em 2014, o discreto Jean-Marc Ayrault.

À chegada, os ecologistas bateram com a porta da coligação, denunciando as suas propostas sobre ciganos, entre outras. Valls não se intimidou e seguiu fielmente a nova linha social-liberal de Hollande (redução de impostos para as empresas, reforma dos direitos laborais…). Outros pesos-pesados da equipa abandonaram o navio.

Um dos raros, à esquerda, a votar a interdição da burqa no espaço público, ataca com frequência o véu islâmico, “uma ordem religiosa, sectária e totalitária”.

 

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