Uma nova teoria - que faz sentido - sobre a revolta de quem vota em Donald Trump

Kathy Cramer escreveu um livro sobre a forma como se sente a política na América profunda.

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AFP/Darren Hauck

Vamos passar os próximos anos a tentar perceber o que aconteceu. Sabemos que os que votam em Donald Trump estão furiosos e saturados. Mas se há dúvidas acerca do fosso que se alarga entre os Estados Unidos democratas e republicanos, sobre a razão pela qual a política hoje aparenta ser tão tensa e emotiva, Kathy Cramer é uma das melhores pessoas para responder a essas dúvidas. Durante a última década, esta professora de Ciências Políticas tem atravessado o Wisconsin para tentar compreender os eleitores das zonas rurais.

Muito antes do Presidente Barack Obama ou do Tea Party, muito antes da ascensão de Donald Trump ter enviado jornalistas à procura de respostas, Kathy Cramer passava os dias em leitarias, restaurantes e bombas de gasolina, com o seu gravador e a tirar notas. A sua investigação procura compreender como é que habitantes de localidades pequenas interpretam a política – quais as razões por detrás do que sentem, porque votam e como votam.

Nestas eleições tem havido muita curiosidade sobre o que motiva os que votam em Donald Trump. O livro de memórias de J.D. Vance, Hillbilly Elegy (Elegia dos Saloios, não traduzido para português) apresenta uma narrativa sobre famílias desfeitas e decadência social. “Existe por aqui uma falta de representação – um sentimento de se ter pouco controlo sobre a nossa vida e uma vontade de culpar todos menos nós próprios,” escreve. A socióloga Arlie Hochschild conta uma história de visível traição. De acordo com a sua investigação, os eleitores brancos sentem que o sonho americano está a fugir-lhes das mãos e estão furiosos porque acreditam que foram preteridos em relação às minorias e aos imigrantes.

O livro recente de Kathy Cramer, The Politics of Resentment (A Política do Ressentimento, não traduzido para português) oferece outras perspectiva. Através das suas inúmeras entrevistas às pessoas de zonas rurais de Wisconsin, ela mostra como a política tornou-se uma questão de identidade pessoal. Quase todos os entrevistados sentem uma profunda amargura para com as elites e os habitantes das cidades; quase todos sentem-se pisados, desrespeitados e enganados em relação àquilo que sentem merecer.

Kathy Cramer argumenta que esta “consciência rural” é o elemento fundamental para compreender os argumentos políticos relevantes para os seus entrevistados. Por exemplo, diz ela, os habitantes de zonas mais rurais de Wisconsin apoiaram a missão do Tea Party para diminuir o governo, não porque acreditem nas virtudes de um governo pequeno mas porque não acreditavam que o governo “ajudasse pessoas como eles.”

“O apoio para um governo mais pequeno entre pessoas com menos rendimentos tem origem, muitas vezes, na opinião das pessoas que foram enganadas,” escreve ela. No entanto: “ao ouvir estas conversas, é difícil chegar à conclusão que as pessoas que entrevistei acreditam no que acreditam porque foram enganadas. As suas opiniões têm por base identidades e valores, assim como percepções económicas; e tudo isto está interligados.”

Eleitores de zonas rurais não são, claro, a mesma coisa que eleitores de Donald Trump mas Kathy Cramer apresenta um modo de pensamento importante sobre a política na era de Donald Trump. Muitos têm dito que a política norte-americana está cada vez mais tribal; Kathy Cramer vai mais longe, mostrando que estas identidades tribais moldam as nossas perspectivas da realidade.

Não será suficiente dizer que, nos próximos meses, os eleitores de Donald Trump estavam simplesmente furiosos. Kathy Cramer mostra que há subtilezas na raiva política. Ela argumenta que para compreender o sucesso de Donald Trump, temos de compreender como é que ele tocou no sentido de identidade das pessoas.

Kathy Cramer falou connosco recentemente sobre Donald Trump e sobre o futuro da política de identidade branca.

Para quem não ainda não tenha lido o seu livro, pode explicar o que descobriu após passar tantos anos a entrevistar pessoas no lado rural de Wisconsin?
Para ser sincera, demorei vários meses – fui a 27 comunidades várias vezes – antes de me aperceber que havia um padrão em todos estes sítios. O que eu ouvia era um sentimento geral de injustiça. As pessoas nos meios rurais sentiam que não estavam a receber a parte que lhes era devida.

Este sentimento é essencialmente composto por três aspectos. Em primeiro lugar, as pessoas sentem que não têm poder de decisão. Por exemplo, dizem que todas as decisões são tomadas em Madison e Milwaukee e que ninguém ouve o que elas têm para dizer. Ninguém está a prestar atenção e ninguém vai lá para lhes perguntar o que elas pensam. As decisões são tomadas nas cidades e elas têm de se reger por elas.

Em segundo lugar, as pessoas reclamam que não estão a receber a sua justa parte, que não têm acesso justo a recursos públicos. Esse aspecto é referido frequentemente na opinião que elas têm dos impostos. As pessoas têm este sentimento que todo o dinheiro é sugado por Madison e que nunca é aplicado nos sítios onde vivem.

E em terceiro lugar, as pessoas sentem que não são respeitadas. Dizem que a verdadeira questão é que as pessoas da cidade não as compreendem. Não compreendem a vida rural, o que é importante para os seus habitantes e os desafios que enfrentam. Pensam que são todos uns provincianos racistas.

Em suma: o poder, o dinheiro, o respeito. As pessoas sentem que não recebem a parte que lhes é devida.

Haverá pistas que apontem para uma mudança? Que algo tenha ocorrido para intensificar este sentimento? Por que razão é que este ressentimento parece estar tão presente agora? 
Estes sentimentos não são novos. Quando os ouvi pela primeira vez em 2007, já se estavam a acumular há décadas. Veja todos os indicadores que mostram o aumento da desigualdade económica que dura há décadas. Muitas das histórias que as pessoas contam sobre o percurso das suas vidas estão representadas nesses indicadores, que mostram que desde meados dos anos 70 que a vida tem piorado cada vez mais.

Apenas se tornou cada vez mais difícil para a maioria fazer face a tudo isto. Creio que esta é parte da história. Tem sido um desgaste lento. O ressentimento funciona assim. Acumula-se até que algo acontece. E a convergência de alguns aspectos faz com que as pessoas reparem: “Estou tão irritado. Estou a ser vítima de uma injustiça.”

Na sua opinião, o que espoletou esta situação?
A Grande Recessão não ajudou. Mas como descrevi no livro, as pessoas não falavam sobre isso como eu esperaria. As pessoas sentiam alguma indiferença porque viviam em recessão há décadas. Qual era o problema?

Em parte, o Partido Republicano tem aperfeiçoado a sua retórica para atingir este ressentimento. Eles dizem: “Têm razão, não estão a receber a vossa parte e o problema é que está tudo a ir para o governo. Como tal, vamos reduzir o governo.”

Ou seja, estamos a ver um efeito provocado pelas elites onde é dito à população: “Têm razão em estar frustrados. Esta injustiça existe.”

Além disso, também penso que o nosso primeiro Presidente afro-americano está envolvido. Muitas das pessoas que entrevistei estavam bastante intrigadas com Barack Obama. Creio que foi a sua raça que, de certa forma, alertou as pessoas que este era um candidato diferente. Mantiveram o espírito aberto em relação a ele. Talvez ele fosse diferente.

Mas quando o debate sobre a saúde escalou, assim que tomou posse e se tornou extremamente partidário, creio que as pessoas também tomaram o lado do seu partido. E verdade seja dita, creio que muitas pessoas viram a eleição de um afro-americano para a Presidência como uma ameaça. Pensaram: “Algo se passa no nosso país que eu não reconheço, o que significará para pessoas como eu?” Creio que a sua presença acabou por exacerbar a ansiedade colectiva sobre a direcção que o país estava a tomar.

Um dos intermináveis debates no Twitter centra-se à volta da questão se Donald Trump é fruto do ressentimento racial ou se Donald Trump tem como base preocupações económicas mais profundas. E muitas vezes a discussão é interpretada como se estes dois aspectos fossem mutuamente exclusivos. No entanto, creio que o seu livro apresenta uma maneira interessante de ligar estas duas ideias.
O que eu ouvi nas minhas entrevistas é que, nestes três elementos do ressentimento – não tenho poder, bens nem respeito – a raça e a economia interligam-se.

Quando as pessoas dizem que os habitantes das cidades recebem uma “parte injusta”, certamente que há um aspecto racial nessa afirmação. Mas também estão a falar de pessoas como eu, uma mulher, branca, professora. Fazem perguntas sobre o meu trabalho, qual é o meu horário, o que estou a fazer a passear em Wisconsin quando deveria estar a trabalhar em Madison, que raio de trabalho é este.

Não é apenas ressentimento pelas pessoas de cor. É ressentimento pelas elites, pelos habitantes das cidades. E talvez a melhor maneira de explicar como isto está interligado seja através das concepções de trabalho árduo e de mérito e de como estas são importantes para associar o ressentimento à política.

Sabemos que quando as pessoas pensam no apoio que dão a certas políticas, muitas delas estão a pensar se quem vai beneficiar dessas políticas é merecedor desses mesmos benefícios. Estes pensamentos estão muitas vezes interligados a noções de trabalho árduo, porque na cultura política norte-americana há uma tendência de fazer equivaler trabalho árduo a mérito.

E muitos dos estereótipos raciais carregam esta noção de ócio, portanto quando as pessoas fazem estes julgamentos sobre quem trabalha arduamente, muitas vezes as pessoas de cor não ficam bem vistas. Mas não são só as pessoas de cor. As pessoas dizem coisas como: “Passas o dia sentado numa secretária? Bem, isso não é trabalho árduo. Eu é que trabalho arduamente – corto lenha, acordo às 04h30 e dou o corpo ao manifesto. Toda a minha vida fiz isso. Estou a fazer trabalho físico para ganhar a vida.”

Na minha opinião, com o ressentimento e estas noções de mérito, é aí que é possível observar a ligação entre a ansiedade económica e a ansiedade racial.

O argumento de que o movimento de Donald Trump equivale a racismo não me parece ser verdade, e isto porque o racismo não põe comida na mesa. Não se pode ganhar a vida com o racismo. Não nego que os estudos mostrem que há muito ressentimento racial entre o eleitorado de Donald Trump mas muitas vezes o argumento termina aí. “Eles são racistas.” Parece-me ser uma forma muito redutora de olhar para a questão.
É claramente racista pensar que os negros não trabalham tanto como os brancos. E então? Declaramos que uma grande parte da população é racista e, como tal, os seus problemas não são merecedores da nossa atenção?

Como é que alguma vez vamos lidar com a injustiça racial apresentando essa perspectiva limitada? Claro que parte ressentimento está relacionado com questões raciais. No entanto também está muito relacionado com as condições de vida destas pessoas. Temos de prestar atenção a ambas. Tal como o trabalho que o The Washington Post fez sobre a taxa de mortalidade demonstra, nem tudo se resume ao dinheiro. As pessoas também estão a passar por um período de declínio em termos de prosperidade.

O outro elemento verdadeiramente importante deste debate é a percepção das pessoas. Os estudos demonstram que os apoiantes de Donald Trump podem não estar a passar por dificuldades. No entanto, vivem em sítios onde é razoável pensarem que outros como eles possam estar a passar por dificuldades.

Em alguns aspectos, o apoio a Donald Trump está assente na realidade – nas verdadeiras dificuldades económicas, no verdadeiro aumento da mortalidade. Mas é a percepção dessas dificuldades económicas que é o verdadeiro fio condutor nesta questão. Tem sido uma lição muito importante nestas eleições.

Gostava de falar mais sobre esta ideia de mérito. No seu livro, saltou-me à vista que as pessoas com quem falou têm um sentimento forte sobre o que elas merecem e o que elas acreditam que devem ter. Qual é a origem desse sentimento?
Em parte, deriva da narrativa altamente tensa que adoptámos nos Estados Unidos. Uma das principais histórias da nossa cultura política é o sonho americano – o sentimento de que se trabalharmos arduamente, vamos ser recompensados.

E bem, as pessoas com quem me encontrei pareciam trabalhar mesmo muito. Estive com elas quando iam beber café antes de começarem o dia de trabalho, às 05h30. Conseguia ver o cansaço nos seus olhos. E acho que a noção de que não recebem o que merecem deriva das suas dificuldades. Sentem que estão a fazer o que é necessário para serem recompensados. E não é suficiente.

Muitas vezes, nestas comunidades, as pessoas herdam a profissão dos seus pais, são agricultores ou lenhadores. Dizem que os seus pais conseguiam ter este trabalho, reformavam-se relativamente cedo e ganhavam bem. Tinham uma boa qualidade de vida e a comunidade prosperava. E agora estão a fazer o que os pais fizeram e a vida é muito mais difícil.

Fizeram o que lhes foi dito para serem bons cidadãos e serem recompensados mas não estão a receber o que lhes foi prometido.

Este buraco na classe média é para todos, não apenas para os brancos. No entanto, parece que este fenómeno só incentiva alguns eleitores a apoiarem Donald Trump. Um dos temas no seu livro é como a mesma realidade e os mesmos factos podem ser interpretados de forma diferente, por mentalidades diferentes que chegam a conclusões diferentes.
Não é inevitável que estas pessoas assumam que o declínio da sua qualidade de vida se deva a outros grupos da população. No meu livro, falo sobre o ressentimento da população rural em relação aos habitantes da cidade. Na campanha presidencial, Donald Trump é bastante claro em dizer: “Vocês têm razão. Não estão a receber a vossa parte e olhem para todas estas pessoas que estão a receber mais do que merecem. Imigrantes. Muçulmanos. Mulheres arrogantes.”

 Mas era neste aspecto que ver uma disputa entre Bernie Sanders e Donald Trump seria tão interessante. Creio que o apoio a Bernie Sanders representou uma diferente interpretação do mesmo problema. Para os apoiantes de Bernie Sanders, o problema não residia em certos grupos da população receberem mais do que deviam, mas sim o governo não fazer o suficiente para intervir nesta questão e endireitar um barco que vai na direcção errada.

Uma das partes muito interessantes do seu livro é onde debate como a população rural aparenta odiar o governo e querer diminuí-lo, ainda que o governo lhes ofereça bastantes benefícios. Aqui levanta-se a questão de Thomas Frank: será que as pessoas estão, de certa forma, a ser enganadas ou iludidas?
Existe definitivamente alguma desinformação e alguns desentendimentos. Mas todos nós fazemos isto: deparamo-nos com informação e interpretamo-la de uma forma que apoia as nossas crenças. Estudos recentes de ciências políticas demonstraram que os que julgam ser mais sofisticados em termos políticos e que têm mais formação, são aqueles que têm mais tendência para o fazer.

Como tal, resisto muito a essa caracterização dos apoiantes de Donald Trump como sendo ignorantes.

Cada vez mais há provas de que a política para as pessoas não é – e eu sei que isto vai soar de forma horrível – sobre os factos e as políticas. É sobre identidades, sobre a formação de ideias, sobre o tipo de pessoas que nós somos e o tipo de pessoas que os outros são. Quem sou eu e quem está contra mim?

As políticas estão relacionadas com isso mas as políticas não são o fio condutor destes julgamentos. As outras pessoas são avaliadas – esta pessoa é semelhante a mim? Será que esta pessoa me compreende?

Creio que muitas vezes gastamos as nossas energias a tentar perceber qual é a posição das pessoas sobre determinadas políticas. E creio que se direccionarmos essas energias para tentarmos compreender como é que essas pessoas olham para o mundo e para o seu lugar no mundo, conseguiremos compreender muito melhor como é que elas votam ou que candidatos lhes serão apelativos.

Todos nós, mesmo os com formação e politicamente sofisticadas, interpretamos os factos através das nossas perspectivas, através da ideia que formamos de nós próprios, as nossas identidades.

Não creio que passe por dar mais informações às pessoas. Porque elas vão interpretar essas informações pelas suas perspectivas. As pessoas só absorvem factos quando estes são comunicados através de uma fonte que respeitam, através de uma fonte que sentem que as respeita.

Portanto, quando um liberal apelida os apoiantes de Donald Trump como sendo ignorantes, estando enganados ou desinformados, isso não contribui em nada para passar a mensagem que o liberal está a tentar passar.

Se, hipoteticamente, Hillary Clinton vencer as eleições na terça-feira [esta entrevista foi feita antes de o resultado ser conhecido], muitas pessoas sugerem que ela devia fazer uma digressão pelo país para ouvir as pessoas. Qual seria a melhor estratégia para ela chegar às pessoas?
 A melhor estratégia seria Donald Trump, caso perdesse as eleições presidenciais, afirmar “Temos de nos unir enquanto nação e precisamos de ser bondosos uns para os outros.”

Não vai acontecer. Quanto à abordagem seguinte… bem, estou a tentar ser realista. Não é lá grande estratégia para uma pessoa de fora dizer, “A sério, nós estamos mesmo preocupados convosco.” O nível de ressentimento é elevadíssimo.

Durante meses foi-lhes dito tinham toda a razão em estarem furiosas com o governo federal e que não deviam confiar nesta mulher, que ela é uma mentirosa e uma fraude, e Deus nos valha que ela se torne presidente dos Estados Unidos. Têm de ser os nossos líderes políticos a dar o exemplo de como se deve criticar e de como não se pode perder a crença no sistema. A não ser que os líderes nacionais o façam, creio que não podemos esperar que as pessoas sigam o seu exemplo.

Talvez seja boa ideia acabar esta entrevista com “ouvir as pessoas”. Recentemente, Arlie Hochschild foi entrevistada e alguém perguntou-lhe como é que ela conseguia empatizar com os apoiantes de Trump. Alguns liberais ridicularizaram-na no Twitter. Na opinião deles, era impossível tentar compreender as mesmas pessoas que entoavam palavras anti-semitas em comícios de Donald Trump. Houve uma reacção violenta e fiquei a pensar no seu livro.
Um dos aspectos muito tristes do ressentimento é que este se multiplica. Agora os liberais dizem, “Não há justificação para estas opiniões e porque é que as devo respeitar e gastar o meu tempo a ouvi-las?”

Ainda bem que eu era ingénua quando comecei. Se soubesse o que sei hoje sobre o nível de ressentimento que as pessoas têm em relação à elite de mulheres urbanas e profissionais, iria entrar numa bomba de gasolina às 05h30 e dizer “Olá! Sou a Kathy da Universidade de Madison”?

Estaria a morrer de medo após estas eleições presidenciais! Mas ainda bem que não estava ciente destas opiniões. O que me aconteceu foi que, passados três minutos, as pessoas sabiam que eu era professora na Universidade de Madison, e falaram imenso sobre como isso as irritava. E continuámos a falar.

E voltei para uma segunda visita, uma terceira visita, uma quarta, uma quinta, uma sexta. E demo-nos bem. Mesmo no fim da minha primeira visita, eles diziam “Sabes, és o tipo de professora de Madison que nunca conhecemos, és uma pessoa bondosa e normal.” E ríamo-nos. Conhecemo-nos enquanto seres humanos.

Isso deve-se em parte por nos termos ouvido uns aos outros e em parte por ter passado tempo com pessoas que têm uma vida diferente e que olham para a vida com uma perspectiva diferente. Nada se iguala a isso. Não é possível vivê-lo na comunicação online. Não é possível vivê-lo sem ter boas intenções. É o acto de estar com outras pessoas que define o sentimento de estarmos verdadeiramente juntos nisto. Por mais que soe ingénuo, acredito mesmo que esta seja a verdade.

Exclusivo PÚBLICO/Washington Post
Tradução de Francisco Ferreira

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