Um novo normal

Estudos mostram-nos que temos potencial para lidar com a imprevisibilidade e ter algum controlo sobre o que nos rodeia.

“É preciso regressar à normalidade”. É frequente ouvir apelos semelhantes feitos aos cidadãos, após ataques terroristas como os ocorridos em Nice, Bruxelas, Paris ou no já distante 11 de Setembro. Igualmente frequentes, são afirmações de que existirão novos ataques mas não se consegue prever quando. Perante esta incerteza, como pode então a normalidade regressar?

Vários estudos (1) demonstram que após um atentado, a normalidade não regressa. Aumentam por exemplo as emoções negativas (como o medo, ansiedade, raiva ou tristeza generalizada) e os níveis de stress. Do ponto de vista dos cidadãos, aumenta também a probabilidade de poderem ser vítimas de atentados, num futuro próximo ou mesmo longínquo. Também a perceção de ameaça permanece constante para aqueles que consideram não ter os recursos (pessoais ou sociais) necessários para lidar com as novas exigências. Porque são novas as formas de fazer ataques, novos os locais, sem possibilidade de previsão.

No entanto, esses estudos deixam-nos otimistas porque mostram também que temos potencial para lidar com a imprevisibilidade e ter algum controlo sobre o que nos rodeia. Por exemplo, buscando informação/estratégias sobre como nos protegermos, procurando apoio de outros ou reforçando os laços com a nossa comunidade ou país, evidenciadas em manifestações nos media sociais através de frases como “#JeSuisCharlie” ou “#PrayforParis”.

Existindo potencial, é possível ajudar os cidadãos a preparar-se para o “se” estes eventos ocorrerem mesmo sem saber “quando, onde e como”. É o que acontece por exemplo na prevenção de riscos de terremoto, em que ações de sensibilização têm procurado dar recursos aos cidadãos para o que fazer “se” acontecer.

Podendo as autoridades contribuir para aumentar este potencial, mais do que “regressar à normalidade”, importa ajudarem a criar um “novo normal” numa sociedade resiliente capaz de lidar com novas exigências que lhes são colocadas. Um “novo normal” em que as ameaças deixam de o ser e se tornam desafios. Novos desafios.

ISPA - Instituto Universitário, William James Center for Research

 

1) Ubillos, S., Mayordomo, S. & Basabe, N. (2005). Percepción de riesgo, reacciones emocionales y el impacto del 11-M. Revista de Psicología Social: International Journal of Social Psychology, 20, 301-313. doi: 10.1174/021347405774277640

- Schuster, M. A., Stein, B. D., Jaycox, L. H., Collins, R. L., Marshall, G. N., Elliott, M. N., ... & Berry, S. H. (2001). A national survey of stress reactions after the September 11, 2001, terrorist attacks. New England Journal of Medicine, 345, 1507-1512. doi: 10.1056/NEJM200111153452024

- Busso, D. S., McLaughlin, K. A., & Sheridan, M. A. (2014). Media exposure and sympathetic nervous system reactivity predict PTSD symptoms after the Boston marathon bombings. Depression and anxiety, 31, 551-558. doi: 10.1002/da.22282

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