Um dia sem imigrantes para boicotar Trump

Activistas pediram a imigrantes para não irem nem trabalhar, nem às aulas esta quinta-feira. Objectivo: mostrar o impacto da imigração nos Estados Unidos. Algumas empresas disseram que iam fechar, em solidariedade.

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Protesto contra medidas anti-imigração de Trump, a 31 de Janeiro Reuters

À semelhança do que aconteceu em 2006, quando imigrantes hispânicos se organizaram para uma “greve” nos Estados Unidos, também foi planeado para esta quinta-feira um protesto contra as políticas anti-imigração do recém-eleito Presidente Donald Trump.

A campanha foi espalhada sobretudo pelas redes sociais, e o apelo é que todos os imigrantes faltem ao trabalho e à escola esta quinta-feira, não fazendo compras nem comendo em restaurantes. Segundo os media americanos, o apelo já mobilizou várias empresas.

Tudo para mostrar qual o papel que os imigrantes desempenham na sociedade americana. “Sem nós e a nossa contribuição este país vai ficar paralisado”, lê-se num dos folhetos de apelo ao boicote. 

Impulsionado por organizações e activistas, o boicote surge como resposta da sociedade civil americana às rusgas da semana passada em vários estados, em que agentes oficiais foram “à caça” de imigrantes indocumentados e prenderam centenas. O apelo dirige-se a todos os imigrantes, independentemente do seu estatuto legal, e a donos de empresas que empreguem imigrantes.

O manifesto é também contra a ordem de Donald Trump de as autoridades irem atrás dos estimados 11 milhões de imigrantes sem autorização de residência (dados do Washingon Post) e contra o decreto que fecha as fronteiras a refugiados e cidadãos de sete países muçulmanos (decreto que está neste momento suspenso por dois tribunais, entre eles o Tribunal Federal de Recurso, em São Francisco, embora Trump tenha dito que poderia criar um totalmente novo).

Várias empresas e restaurantes em diferentes pontos do país também mostraram que iam aderir. Alguns dos mais conhecidos de Washington, região onde quase 22% da população é imigrante, de acordo com um estudo do Brookings Institution, tinham-se mostrado solidários com os activistas, quer fechando portas, quer limitando o serviço: tudo para “atingir” a Casa Branca “no estômago”, escrevia o New York Times. Cerca de 30 estabelecimentos, segundo uma lista publicada pelo DCist, tinham já aderido. Em Nova Iorque, a cadeia Blue Ribbon avisou que iria fechar vários dos seus restaurantes.

Entrevistado pela Reuters, o chefe espanhol Jose Andres – que está envolvido numa batalha legal por causa de um restaurante que acabou por recusar abrir num hotel de Trump, em Washington, em 2015 em sequência de um comentário do então empresário sobre imigrantes – foi um dos que garantiram que iria fechar as portas. “Pessoas que nunca faltaram a um dia de trabalho disseram que não queriam vir na quinta-feira”, explicou. “O mínimo que podia fazer era colocar-me ao lado deles”, disse o chefe da cadeia Oyamel.

Em 2006, apesar de resistências iniciais, o boicote, organizado para o dia 1 de Maio (que não é feriado nos EUA), levou milhões às ruas em vários estados americanos para pressionar o Congresso a fazer uma reforma que permitisse a legalização de onze a doze milhões de pessoas – era então Presidente George W. Bush.

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