UKIP perde o único representante que tinha no Parlamento britânico

Douglas Carswell diz que a decisão foi "amigável", mas o partido atravessa um período de confusão sobre o seu futuro.

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Douglas Carswell foi muito criticado por Nigel Farage Neil Hall/Reuters

Depois de ter sido decisivo para a saída do Reino Unido da União Europeia, o partido nacionalista e anti-imigração UKIP entrou num período de convulsão interna sem fim à vista. Este sábado, o seu único representante no Parlamento de Westminster anunciou que abandonou o partido e que vai continuar em funções como independente.

Douglas Carswell, de 45 anos, mudou-se para o UKIP em 2014, depois de ter passado toda a sua vida adulta no Partido Conservador.

Foi eleito para a Câmara dos Comuns em 2005 e reeleito em 2010 pelo círculo eleitoral de Clacton, no condado de Essex. Em Agosto de 2014 decidiu abandonar os conservadores – que acusou de serem brandos e hesitantes em relação a assuntos como o "Brexit" e o reforço das fronteiras – e filiou-se no UKIP, tendo sido eleito novamente em 2014 para os Comuns, mas já como representante do partido nacionalista e anti-imigração.

O peso e a influência do UKIP foi crescendo nos anos que antecederam a realização do referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, ao ponto de o Governo conservador do ex-primeiro-ministro David Cameron ter feito várias cedências para tentar não perder eleitores – a maior terá sido a decisão de convocar o referendo.

Com a medalha do "Brexit" conquistada em Junho de 2016, o UKIP mergulhou num período de convulsão interna. Primeiro foi a saída do seu histórico líder, Nigel Farage, e as eleições de Diana James (que só aguentou 18 dias na liderança) e Paul Nuttal (o actual líder do partido).

Neste contexto, Douglas Carswell começou a surgir cada vez mais como uma ameaça aos membros mais radicais do partido, que querem manter o UKIP longe do mainstream e de possíveis aproximações aos conservadores. Na semana passada, Nigel Farage disse que tinha chegado o tempo de "fazer uma limpeza", para se garantir que o UKIP "não tenha influências como Carswell a desviar o partido de argumentos vitais como a imigração". E já este sábado, em reacção ao anúncio de Carswell, deixou bem patente a sua opinião no Twitter: "Carswell saltou antes de ser empurrado. Nunca foi UKIP e sempre tentou minar-nos. Devia ter saído há muito tempo."

O maior adversário de Carswell no actual UKIP, Arron Banks, congratulou-se com o anúncio feito este sábado, mas insistiu que o até agora único representante do partido na Câmara dos Comuns deveria submeter-se a uma eleição intercalar – na qual teria de enfrentar, como independente, o radical Banks em Clacton. Também no Twitter, Banks reagiu ao anúncio de Carswell com um smile.

Mas não foi essa a decisão de Douglas Carswell. Num texto publicado no seu site, o ex-membro do UKIP garante que a sua saída foi "amigável", e diz que vai concentrar-se agora nos problemas dos eleitores de Clacton. A luta pela saída da União Europeia chegou ao fim com uma vitória, e Carswell diz que não há motivos para continuar no UKIP.

"Na próxima quarta-feira, a primeira-ministra vai accionar o Artigo 50, dando início ao processo formal da saída do país da União Europeia. Em Abril de 2019, o Reino Unido vai deixar de ser membro da União Europeia. Ao fim de 24 anos, conseguimos. O 'Brexit' está em boas mãos", escreveu Carswell.

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